Programação

As conferências plenárias serão de aproximadamente 60 minutos, seguindo-se igual tempo para o debate.  As comunicações das mesas temáticas serão de no máximo 20 minutos, seguindo-se um total de 30 minutos de debate após concluídas todas as três apresentações.

29/11
seg
10H
Plenária
Plenária
Mediação: Rosa Gabriella de C. Gonçalves
Imagem-pensamento-cidade
Paola Berenstein (UFBA)
14H
Sala 1
Codigofagia: sentindo o que a outra sente
Mediação: Fernanda Proença
Diferonças podEROSas
Imaculada Kangussu (UFOP)

Desejamos apresentar reflexões sobre obras literárias capazes de provocar nas leitoras os sentimentos das personagens. Nossos exemplos são Dão-Lalalão, de Guimarães Rosa; Amada, de Toni Morrison e O som do rugido da onça, de Micheliny Verunschk. As obras parecem capazes de atravessar a carcaça dos hábitos exigidos para a autoconservação e de trazer à cena o antes obsceno, o condenado a ser o outro, como objeto de desejo livre do mito da pureza.

Blues e Jazz para encantamento de mulheres
Nathalia Barroso (UFOP)

Partindo das análises de Angela Davis na obra “Blues Legancies and Black Feminism” pretendemos demonstrar como o Blues Clássico de “Ma” Rainey e Bessie Smith e o Jazz de Billie Holiday construíram momentos nos quais aflições, agonias, alegrias e aspirações das mulheres negras puderam ser compartilhadas. A experiência estética provocada pelo Blues e Jazz possibilita que novos desejos sejam incorporados pelas ouvintes. Tais desejos podem incitar novas ações: assim como as serpentes movem-se ao sentir a vibração do solo, as mulheres movem-se ao sentir o enunciado pelo Blues e Jazz.

Ubuntu e Maafa – A sensibilidade de(s)colonizada
Fabiana Vieira da Costa (UFOP)

Nossa intenção é trazer o modo pelo qual a arte, em seu papel refletor-coletivo, nos faz sentir, pelo atravessamento dos corpos, o processo do sequestro transatlântico, aquele que embarcou seres humanos africanos e, quando resistentes, desembarcou seres negros coisificados. Isso através das canções de Luedji Luna, Emicida e Baiana System que fazem sentir a travessia ontológica (o processo de quebras identitárias) possibilitando o resgate e o aprendizado do passado, que aperfeiçoado no presente, ensina o futuro.

14H
Sala 2
Estéticas do presente
Mediação: Pedro Franceschini
A crise da normatividade em Gerd Bornheim
Lucas Taufer (UCS)

A finalidade da comunicação é apresentar um estudo sobre a crise da normatividade em Gerd Bornheim. Na primeira parte, examinamos as reflexões propostas em seus textos Sentido e criatividade (1969), O conceito de tradição (1987), O sujeito e a norma (1992) e Arte contemporânea e estética (1998). Os principais conceitos discutidos nessa fase são i) o de drama burguês, processo no qual se inscreve uma singular observação, feita pelo autor, do evolver da liberdade enquanto disputada teórica e pratica, na escalada da crise da metafísica ocidental na modernidade; e, em decorrência disso, as respectivas ii) crise do conceito de indivíduo, que acaba por culminar nos impasses a que chegam a dicotomia sujeito-objeto e suas decorrências nos fazeres e saberes estéticos e artísticos; e iii) crise da normatividade, seja no âmbito da estética, seja em algo análogo possível de se constatar no âmbito moral. Em seguida, passamos à discussão de duas teses encontradas na obra Dialética: teoria, práxis (1977): a) a da ontologia dialética do homem, ou em sua própria formulação, a tomada do ser do homem enquanto diferença totalizante; e b) a da consideração de que, em vista daquela, todo comportamento humano é ontológico. Finalmente, propomos uma síntese crítica entre os conceitos e as teses desenvolvidas por Bornheim, de modo a apresentar um possível sentido para o seu perscrutar da trajetória das linguagens artísticas e das experiências estéticas nas desventuras da história da filosofia ocidental.

Arte generativa: exceção, excesso e excedente na estética informacional
Daniel Hora (UFES)
Karyne Berger Miertchink (UFES)
Larissa Pereira (UFES)

Este artigo tomará como ponto de partida a recente expansão da arte generativa baseada em inteligência artificial. A partir disso, apontaremos alguns tópicos de reflexão crítica, considerando a atual contextualização cultural marcada por relações codificadas de intercâmbios além-do-humano praticados por máquinas e sistemas algorítmicos. Abordaremos as aberturas e bloqueios desse cenário como um problema estético, referente à sensorialidade da arte que concorre com bens e serviços tecnológicos complexos do mundo contemporâneo. Tal problema gira em torno das demandas impostas para uma assimilação reflexiva que envolva tanto o lado explícito, quanto o lado subjacente da poiésis probabilística da inteligência artificial – sua caixa preta, conforme Flusser. Essa operação se manifesta com ambiguidade, pois a excepcionalidade da informação que se pretende extrair como arte se sustenta na excessividade crescente da memorização de dados e da capacidade das unidades de processamento. Por outro lado, exceção e excesso tornam-se intimamente ligados à produção de excedentes econômicos associados às demandas de consumo e à oferta de produção. Serão salientadas as correspondências da produção generativa baseada em inteligência artificial com os modelos de compreensão pós-conceitual, pós-midiática e pós-digital que os fenômenos recentes do sistema da arte suscitam. Por fim, apontaremos a adequação sintomática desses modelos para avaliações mais amplas sobre a esfera econômica e política.

Atmospheric Thinking. The Interweaving of Corporeality and Spirituality in Atmospheric Experience
Zhuofei Wang (University of Hildesheim)

An aesthetic approach to the world can originally be traced back to bodily-affective engagement. On this background, the newly developed concept of atmosphere within the framework of aisthetik requires further research on the following issue: How do we open up a bodily-sensory access to the world by emphasizing atmospheric experience without excluding other equally justified aspects such as spirituality? In this respect, Baumgarten’s consideration of the interplay between sensuousness and spirituality can have a stimulating effect on my investigation of the structural components of aesthetic atmosphere. From this, it can be deduced that a judgment dimension is inherent in the aesthetic perception of atmosphere. The atmospheric experience refers not only to immediate sensuous reaction to the surrounding world, but also to sensuous reflection on perceived things, which serves as taste in the broader sense in the realm of the sensible. This results in a co-existence of immersion and emersion in atmospheric experience, which is largely tuned by respective cultural conditions. Using selected artistic examples, my presentation will then deal with unfavorable weather experiences in Europe, Japan, and China, which are influenced by the concepts of sublimity, wabi sabi (impermanence), and yi (change) respectively.

14H
Sala 3
Dança, ritmo e linguagem
Mediação: Cíntia Vieira da Silva
Fantasmas, visoes, estática: Metáforas em sentido literal
Eduardo Pellejero (UFRN)

Colocar fora de lugar aquilo que de ordinário damos por assente, instalar o extraordinário no âmbito do familiar, dar corpo a imagens desfazem e refazem sem cessar um mundo banal, ou distorcer os símbolos sob os quais tende a ocultar-se a doação e a exigência do real, são procedimentos estéticos que devolvem o seu sentido literal à metáfora e, como tais, restituem uma potência própria da arte que passa desapercebida quando pensada sob o horizonte do sistema da representação. Procurando ser fiel às experiências de Varda, Herzog e Hendrix, o presente ensaio procura articular elementos para repensar esse conceito chave da estética, ao mesmo tempo em que visa situar a labor artística nesse cruzamento do dado e do imaginário, do involuntário e do voluntário, da realidade e do desejo.

São uma? A relação ético-estética na percepção do ritmo
Pedro Filho (UFRB)

“Ética e estética são uma [coisa] só”, afirma Wittgenstein ao fim de uma proposição no seu Tratado (6.421). O fato de a frase estar entre parênteses e vir após a conclusão de que a ética, por não ser um fato do mundo, é transcendental e “não pode ser expressa”, parece sugerir que a unidade entre ética e estética é algo evidente. A afirmação pode ser questionada sob diversos pontos de vista mas, se colocada sob uma perspectiva rítmica (movente no tempo), é possível entender essa unidade dual sob a analogia da arsis-thesis. O ritmo, como proposto desde Aristóxeno de Tarento, não emerge de eventos isolados: é preciso que haja, no mínimo, dois eventos em sequência para que se dê a percepção do ritmo. A partir dos Éléments de Rythmanalyse (1992) de Henri Lefebvre, o estudo do ritmo se intensifica na abordagem não apenas ético-estética mas também poético-política, investigando fenômenos subjetivos e relacionais agenciados pelas possibilidades de criação rítmica (ritmopeia) na música e nos eventos cotidianos. A partir desse panorama, o trabalho busca discutir implicações éticas e estéticas da escuta temporal e rítmica dos acontecimentos no mundo, transcendendo uma visão analítica imóvel que isola os conceitos “sub specie aeternitatis”. Seria ética-estética uma unidade métrica estruturada na alternância entre percepção/afecção subjetiva (arsis) e interação articuladora de valores individuais e coletivos (thesis)?

Intersecções entre “O cortesão” e os tratados da dança quatrocentista
Izis Dellatre Bonfim Tomass (UFPR)

Os tratados da dança italiana quatrocentista, escritos por Domenico da Piacenza (1455) e Guglielmo de Ebreo (1463), são conhecidos, até a presente data, como os “primeiros tratados da dança ocidental”. Eles trazem consigo um duplo aspecto: ambos, a um só tempo, partem de uma justificativa filosófica para a origem dos movimentos da dança, ao passo que alinham tais origens de acordo com o código social de conduta das cortes para as quais – e a partir das quais – tais tratados foram criados. Apesar deste último traço, essas obras não são normalmente consideradas no que tange aos estudos acerca do processo civilizador ocidental. Já em um cenário mais conhecido temos, no início do século seguinte, a obra “O cortesão”, de Baldassare Castiglione (1528), a qual aborda, entre outros temas, as prescrições de conduta para se obter êxito em sociedade. Tal obra é, aliás, citada por Norbert Elias (1939) como uma das primeiras produções ocidentais a trazer em si uma mudança de paradigma em relação ao comportamento social medieval. Contudo, é interessante notar que alguns dos termos e orientações presentes nesta obra já se encontravam delineadas nos tratados mencionados, tais como medida, displicência, graça e harmonia. Destarte, a comunicação pretende cotejar os mencionados conceitos e analisar de que forma eles se estruturam nas obras de Castiglione, de Domenico da Piacenza e de Guglielmo de Ebreo.

16H
Sala 1
Barbárie e iconoclastia
Mediação: Rodrigo Duarte
Sobre o fogo: iconoclastia e revisão simbólica no caso Borba Gato em São Paulo.
Arthur Gomes Barbosa (UNB)

O artigo se configura como um estudo de caso exploratório do recente incêndio da estátua do bandeirante Borba Gato, localizada em São Paulo. A obra foi alvo de manifestações políticas que resultaram em uma ação entendida socialmente como vandalismo, o atear fogo. No entanto, por meio desse estudo, intencionamos levantar pontos de tensão sobre as ações de iconoclastia e vandalismo, tendo como plano de fundo o recente processo de revisão e ressignificação dos objetos de arte pública – monumentos – disponíveis no espaço que afastam a ação do conceito inicial de vandalismo. Para isso, traçamos diferenciações entre as noções de iconoclastia e vandalismo, abordando questões legais sobre os processos de construção e salvaguarda do patrimônio, da arte pública e de suas significâncias no contexto contemporâneo. Assim, temos como objetivo o entendimento semântico e político dessas ações, tal qual suas diferenças e a necessidade de um debate acerca desses recorrentes processos de questionamento das obras de arte pública disponíveis no espaço coletivo, em especial essas que se configuram como homenagens a figuras complexas da história.

Iconoclastia descolonial
Francisco Augusto Canal Freitas (CEFET-MG)

A colonização dos territórios e dos corpos é tanto geopolítica quanto estética e epistêmica. Contra os monumentos da colonização, diversos movimentos negros e indígenas nas Américas, do Chile ao Canadá, do Brasil à Colômbia, têm derrubado, incendiado e destruído as estátuas de seus colonizadores. As estátuas também morrem, como mostra Cris Marker. Mas de diferentes maneiras e por diferentes causas. Por um lado, as estatuas morrem quando são roubadas de seus povos, arrancadas de seu uso cotidiano, e adquirem outra vida nos museus, templos da cultura, onde tornam-se objetos de estranhos rituais. Por outro lado, as estátuas também morrem quando seu poder é negado ou esquecido. Mas é preciso acreditar no poder das imagens para querer destruí-las. A iconoclastia é inseparável da iconofilia, observa Bruno Latour. Salvar estátuas destruídas em museus, querer dar-lhes uma sobrevida, é querer preservar seu poder e autoridade, retificar uma memória. Quando o povo Misak, da Colombia, derrubou a estátua de Jimenez, fundador de Bogotá, fez um ritual funerário que visava liberar o passado para que não volte. O que separa os incêndios do Borba Gato e da Cinemateca? Esses eventos visam a simplesmente apagar ou reelaborar uma memória? O que dizer dos Museus Nacional e da Língua Portuguesa? E mais, da Amazônia e do Pantanal, templos da natureza-cultura de outros povos? A história continua a ser escrita, e apagada, com fogo.

Pode um documento da barbárie ser um documento da cultura?
André Figueiredo Brandão (UFBA)

O incêndio da estátua de Borba Gato, provocado nas últimas manifestações em São Paulo, agitou os debates sobre o modo como documentos da cultura podem se revelar documentos da barbárie. Em um levante, contudo, as circunstâncias parecem inverter os termos de Benjamin. Se, no mito figurado por Ovídio, o amor de Pigmalião por sua escultura inspira Vênus a dar-lhe vida, a revolta de um levante inspira Marte, o deus da guerra, a mover a estátua, retirando-a de sua opacidade, expondo as suas contradições fundantes. Resta à crítica refletir de que forma este documento da barbárie pode ser lido como documento cultural. Se partirmos de Lukács (Ontologia do ser social), não podemos entender o espectador como um receptor passivo, na medida em que o sujeito, enquanto um ser que dá respostas, pode tomar uma obra por múltiplos sentidos. No entanto, ao confrontarmos a obra sobre Borba Gato como está posta, podemos observar os aspectos formais, enquanto estátua, e contextuais, em termos de sua disposição no espaço, que interditam uma experiência que escapa da pura apologia. Isto nos leva à discussão, a partir de Butler (Levante) e de Lefebvre (Direito à cidade), acerca da relação entre os levantes e a cidade, necessária para entender o atear fogo no monumento, em meio ao reconhecimento coletivo da urgência superadora da tolerância com o intolerável que caracteriza o levante, como expressão do não-pertencimento à cidade – enquanto produto –, afeto fundamental para poder imaginá-la como obra.

16H
Sala 2
Benjamin: escrita e tradução
Mediação: Rizzia Rocha
Yasmin Nigri
Sobre o conceito de tradução na estética de Benjamin e Rancière (PUC)

Tendo em vista o entrecruzamento da arte com a política após a segunda metade do século XX, a apresentação lançará luz às origens do pensamento neomarxista de Jacques Rancière e, por conseguinte, à sua formulação de uma pedagogia desierarquizante e verdadeiramente emancipatória. Nela, o sujeito se arrisca a enunciar sua própria experiência a interlocutores com posicionamentos diversos, que após uma escuta aberta, apresentariam suas contra-traduções acerca do mesmo tema. Essa intercambialidade das experiências é o que o filósofo nomeia de partilhas do sensível, central no pensamento de Rancière para sua investigação acerca da origem compartilhada entre arte e política. Em seguida, a abordagem histórica aberta e não linear do filósofo Walter Benjamin entrará em cena; este dá a entender que traduzir e interpretar são partes do mesmo gesto, a saber, mirar nas imagens em ruína “perdidas em transporte” que, no presente, se reduzem a fragmentos. O propósito do escovar a história a contrapeso seria encontrar nesses resquícios os indícios de algum lampejo capaz de restaurar seu brilho original, o que daria início a um novo processo de reorganização da narrativa tradicional da história, não por identidade, como nos tentam vender os vencedores, mas por semelhança. O objetivo do trabalho será contrastar esses dois conceitos de tradução e de que forma eles edificam o pensamento estético de cada autor, usando como objeto de análise a figura fragmentada do torso.

Da tradução como forma à tradução como performance: Anne Carson leitora de Walter Benjamin
Rafael Zacca Fernandes (PUC-Rio)

É bem conhecida, nos estudos da tradução, a tese de Walter Benjamin, em “A tarefa do tradutor”, de que a tradução é uma forma. Nesse ensaio, o conceito de “tarefa”, Aufgabe, cumpre um papel decisivo. Em primeiro lugar, porque o substantivo Aufgabe, como nos lembra Gagnebin, é derivado do verbo aufgaben, que significa “entrega”, no duplo sentido dessa palavra: deixar algo aos cuidados de alguém, como também abrir mão da posse do objeto, como uma desistência ou renúncia. É isso que possibilita pensar a autonomia da tradução que abre mão do original (resultando em duas obras distintas). Em segundo lugar, porque a Aufgabe aparece em outros textos do autor sempre para designar uma abertura do original para várias possibilidades de seu desdobramento em outras formas. Por outro lado, em uma tradução bastante heterodoxa da Antígona de Sófocles, renomeada como Antigonick, Anne Carson repensa o conceito de tarefa (dessa vez em inglês, task) a partir de um prefácio escrito em forma de carta para a heroína da tragédia. Nele, Carson repensa “A tarefa de quem traduz Antígona”: “não permitir que você perca os seus gritos”, diz a autora para a personagem. Nesta apresentação, será demonstrado um estudo comparativo das concepções de tradução em Walter Benjamin e em Anne Carson através de seus respectivos conceitos de “Aufgabe” e “task”. a partir da hipótese de que a Aufgabe de Benjamin concebe a tradução como forma autônoma, enquanto a task de Anne Carson concebe como forma performativa.

Narrar os sonhos da noite com a linguagem da vigília: montagem e ruínas em "Rua de mão única", de Walter Benjamin
Gilmário Guerreiro da Costa (UFG)

Examinar a articulação entre escrita e revolução no livro “Rua de mão única”, de Walter Benjamin. Nele, o autor recorre a um duplo procedimento associado ao despertar: faz sobressair algumas observações teóricas críticas e empenha-se na construção vanguardista do texto. Os vínculos deste com as expectativas de uma mudança revolucionária em sua época (1926-1928), conquanto difíceis de discernir completamente, estão pressupostos na experiência de escrita ali desenvolvida. A obra também oferecerá um modelo de escrita engajada que Benjamin seguirá nos anos 30. Todos esses elementos confluem para um dos protagonistas e temas mais importantes da obra, a cidade moderna. Seja o “teor de verdade” do livro, seja o seu “teor material” – conceitos com os quais esse filósofo buscou superar o dualismo entre forma e conteúdo – conservam no dinamismo expresso por suas imagens os princípios construtivistas dispostos em diversas passagens; as novas exigências políticas a que o seu autor busca responder em termos filosóficos e artísticos; e a peregrinação pelos labirintos da cidade, as mudanças em sua configuração urbana e os novos tipos de comunicação ostensiva-mente inscritos em diversos espaços. Em nossa comunicação, tentaremos examinar esses temas e propósitos que Benjamin traçou com radicalidade manifesta.

16H
Sala 3
Crítica e crise da arte
Mediação: Fernanda Proença
A crítica de arte segundo John Dewey: revisitando “Arte como Experiência”
Laura Elizia Haubert (UNC)

O famoso livro de John Dewey, publicado em 1934 e intitulado “Arte como Experiência”, marca um importante momento da estética estadunidense. Costuma-se, com razão, voltar a ele quando se faz referência às questões de experiência estética, ou ao sentido experiencial de obra de arte, já que estas questões perpassam e parecem ser o cerne do livro, a ponto de dar nome à obra. Não obstante, esse eixo de importância pouco foi comentado, especificamente no que diz respeito ao capítulo XIII do livro, no qual Dewey se concentra na crítica de arte, qual seria seu papel e como, dentro de seu sistema, ela se relaciona com o tema geral da experiência estética. Com efeito, em tal capítulo Dewey trata de casos famosos nos quais a crítica de arte desempenhou uma parte importante, como no caso dos impressionistas, e cita diferentes modos de crítica e críticos. Assim, vemos como sua filosofia da arte também opera em um eixo direto com as obras, no qual contempla também a crítica de arte. No presente trabalho apresenta-se as características da crítica segundo a visão de Dewey, a partir de dois eixos. O primeiro, a relação entre crítica e matéria objetiva das obras de arte; o segundo, a relação entre crítica e experiência estética, chamando atenção ao fato de que, de acordo com o filósofo, é papel da crítica aprofundar a experiência estética dos demais.

Reflexões sobre a crise da arte moderna a partir de G. C. Argan
Débora Barbam Mendonça (UNIFESP)

O objetivo do trabalho é propor uma reflexão a respeito da arte moderna como um exemplo de arte política, a partir das contribuições de G. C. Argan. A arte moderna emergiu de uma série de movimentos que deliberadamente puseram um fim à exigência clássica das representações figurativas, bem como romperam com as estruturas hegemônicas que as sustentavam. Desde o surgimento da disciplina Estética no final do século XVIII, a arte é concebida como uma atividade humana que se pretende autônoma, o que só é possível mediante a libertação de suas dependências, tais como padrões de beleza determinados por uma elite interessada em propagar seu poder. As reflexões de Argan contribuem para explicitar o surgimento da arte moderna em decorrência de motivações políticas, e para explorar a situação limite a qual ela se situava nos últimos anos de suas manifestações. Isto para pensar um movimento artístico que caminhou em direção à sua própria autonomia em um momento em que chegou ao seu esgotamento mediante uma nova realidade, que se apresentava com o surgimento de um novo eixo cultural, os Estados Unidos. Nossa intenção consiste em localizar a arte estadunidense do segundo pós-guerra como uma cisão entre o enfrentamento político da arte moderna e uma pretensa arte política observada na posteridade. Julgamos que este entendimento possibilita sugerir um movimento artístico herdeiro da proposta moderna, como as intervenções urbanas contemporâneas ao nosso tempo presente.

Estética como metacrítica de artes: algumas questões a partir de Noël Carroll
Daniel Pucciarelli (UEMG)

Sabe-se que o advento da estética filosófica é historicamente concomitante ao advento da moderna crítica de artes. Mas é apenas no século XX que parece prosperar, em diferentes tradições de pensamento, a autocompreensão da estética como metacrítica de artes, isto é, como discurso de segunda ordem sobre a própria prática crítica. Com efeito, essa concepção da estética figura em autores tão díspares quanto Monroe Beardsley e Theodor W. Adorno. Pois, correspondendo a um conceito de estética fundamentalmente deflacionado, a definição da estética como metacrítica de artes parece pressupor tanto certa consolidação (e proeminência) da crítica no sistema das artes quanto o recuo de concepções mais ambiciosas da disciplina (como é o caso das estéticas idealistas, por exemplo). Ao mesmo tempo, essa definição parece sofrer um revés com a chamada crise da crítica de artes, isto é, a crise de sua função mediadora e avaliativa no interior do mundo das artes. De fato, como conceber a estética como metacrítica de artes quando a própria crítica parece ter perdido espaço e autoevidência nas últimas décadas? Em que se converteria a estética nesse cenário de crise? A presente comunicação abordará essas questões a partir do pensamento de Noël Carroll, que procurou recentemente (2009) revitalizar a concepção de estética como metacrítica de artes. Em particular, indagaremos a viabilidade de suas pretensões normativas no cenário contemporâneo.

30/11
ter
10H
Plenária
Plenária
Mediação: Pedro Franceschini
Sensing Sympathy: Philoctetes in German Enlightenment Aesthetics
Stefanie Buchenau (Université Paris 8)
14H
Sala 1
Impressões de Roberto Machado
Mediação: Vladimir Vieira
Ler Proust
Pedro Süssekind (UFF)

Benjamin escreveu a respeito de Proust: “A eternidade que Proust nos faz vislumbrar não é a do tempo infinito, e sim a do tempo entrecruzado. (…) Compreender a interação do envelhecimento e da reminiscência significa penetrar no coração do mundo proustiano, o universo dos entrecruzamentos”. Como uma homenagem à memória de Roberto Machado, pretendo fazer um comentário sobre o processo de elaboração do livro póstumo Proust e as artes, cuja publicação está prevista para 2022. A meu ver, esse processo indica um método de trabalho característico do autor, um pesquisador incansável e um brilhante conferencista que redigia seus trabalhos teóricos a partir das anotações feitas antes e depois das aulas e palestras. Além de expor algumas considerações sobre esse seu método, meu interesse é refletir sobre sua longa dedicação à leitura de Proust, que implicava ao mesmo tempo um aprendizado literário (tornar-se um leitor de si mesmo) e uma reflexão sobre os entrecruzamentos entre a filosofia e a literatura.

Roberto Machado e a filosofia
Mariana de Toledo Barbosa (UFF)

Gilles Deleuze considerava a amizade que habita o coração da filosofia, em sua etimologia mesmo, uma espécie de amor à sabedoria. Inspirava-se em Platão para tomar a filosofia como objeto de disputa de diversos pretendentes e indicava um critério para que a seleção fosse feita: a potência de criação envolvida no pensamento de cada um. A filosofia é, então, para ele, indissociável da amizade e do amor. Além disso, seguindo Proust, Deleuze dizia que nunca desejamos ou amamos um objeto, mas sempre uma paisagem, ou melhor, numa paisagem. Meu amor pela filosofia nasceu, ou se desenvolveu, em uma paisagem na qual rapidamente se discerniu a figura de Roberto Machado, minha Albertine nas praias do pensamento, que por sorte veio a ser meu orientador e, por fim, mas não menos importante, um amigo que teve a generosidade de me acompanhar por quase vinte anos. Foi assim que se tornou cada vez mais claro que a potência do pensamento de Roberto só pode ser compreendida ao percebermos o modo como sua filosofia é atravessada pela amizade, e como, de fato, ele viveu a continuidade entre vida e pensamento. Recorrendo a elementos da ética deleuziana, buscarei explorar a zona de vizinhança entre esses dois pensadores, Gilles Deleuze e Roberto Machado, que também foram dois grandes professores.

Roberto educador
Virgínia de Araujo Figueiredo (UFMG)

Inspirando-me na terceira Consideração intempestiva de Nietzsche, sobre Schopenhauer, assim como no livro de Rosa Dias, Nietzsche educador, pretendo fazer uma homenagem ao filósofo e professor Roberto Machado que nos deixou neste ingrato ano de 2021. Tentarei abordar temas como o entusiasmo, a delicadeza, a seriedade, assim como o constante estímulo à criatividade que caracterizaram sua longa trajetória como professor de filosofia, formador de algumas gerações brasileiras. Tenciono ainda aproximar-me de outro lado da vida de Roberto Machado, que foi a de um pesquisador exemplar, sempre ativo, cuidadoso e incansável. Dessa vida amplamente dedicada à pesquisa de inúmeros temas e autores, resultou uma vultuosa obra. Dentre os preciosos livros a nós legados, por afinidade temática, escolhi O nascimento do trágico, como objeto de um breve comentário.

14H
Sala 2
Nietzsche e Bataille
Mediação: Rosa Gabriella de C. Gonçalves
Nietzsche and Will to Power: A Contribution to Aesthetics of the Body
Gloria Luque Moya (UMA)

Today’s aesthetics is a fertile branch of research which tries to transcend the narrow art-oriented approach, widening the focus of attention to include objects, phenomena and activities of our contemporary world that had been traditionally neglected or forgotten. Challenging the traditional scope, aestheticians try to transcend the limited scope of aesthetics began during the latter half of the eighteenth century with a renewed interest in other domains of life. This movement has brought about new disciplines in Aesthetics, like Aesthetics of Body. In this context, this presentation attempts to defend that the conception of will to power developed by Friedrich Nietzsche offers fresh insights into this field.

The idea of will to power contains two perspectives: on the one hand, will is the plurality of instincts in an ongoing process to establish the supremacy of one of them; on the other hand, power is not the goal, it is not something that organisms want it or need it, but something that organisms have it and should perform it. Therefore, this presentation address that Nietzsche, roots aesthetics in our biological nature, our body, emphasizing how will to power is a multiplicity of impulses (Triebe), through which human beings understand their lives as a work of art which is continuously making.

Baixo corporal e pensamento: estética e erótica em Bataille
Ruy Luduvice (USP)

Uma das mais populares interpretações da filosofia de Georges Bataille, no Brasil, é aquela oferecida por Habermas, no capítulo a ele dedicado em seu “Discurso Filosófico da Modernidade”. Segundo o filósofo da ação comunicativa, Bataille seria mais um dos autores da “tradição continental de pensamento” a incorrer em contradição performativa ao tentar despedir-se do esclarecimento europeu, buscando mascará-la a partir de um plano de fuga do debate filosófico traçado por meio da literatura erótica, que esconderia, inclusive, certa simpatia sua pelo totalitarismo político. Se essa leitura tem o mérito de dar o devido destaque à Bataille, reconhecendo seu papel polinizador na filosofia francesa do pós-guerra, amontoam-se nela pilhas de equívocos: dos meramente históricos (nunca houve simpatia por totalitarismos, mas sim uma aproximação do autor a posições no limite reformistas), até os conceituais, estes mais fecundos. Pretendemos nos debruçar sobre estes últimos, pois ao colocar-se a pensar o erotismo e a produzir escritos eróticos, Bataille pretende expandir o domínio da razão e da inteligência, bem como modificar as relações entre estes e a sensibilidade e a imaginação. Ao retomar o gesto de pensadores do XVIII como Sade e Diderot, Bataille nos convida a nos afastarmos de concepções tanto ingênuas quanto perigosas de cultura e civilização, capazes de levar a espécie humana a sua auto aniquilação, e saber conhecer e jogar com as partes baixas do corpo e da mente.

Estéticas da ascensão: arte e ruptura nas filosofias de Schopenhauer e do jovem Nietzsche
Alexandre Squara Neto (UNIFESP)

As filosofias de Arthur Schopenhauer e Friedrich Nietzsche apresentam diversos pontos de aproximação bem como de franco distanciamento, mas ambas conferem à arte e ao fenômeno estético um lugar fundamental em suas formulações. É certo que cada abordagem apresenta especificidades e características que devem ser lidas e comparadas com cuidado, mas em comum entre a metafísica do belo de Schopenhauer e a estética dionisíaca do jovem Nietzsche é que ambas partem de uma ruptura com a dinâmica ordinária de percepção e de interação com o mundo, pois os dois filósofos preveem através da arte um tipo de ultrapassamento da realidade fenomênica e com isso a elevação por sobre o sobre o mundo marcado pela contradição e pela dor. A arte seria, assim, um mecanismo de interrupção do sofrimento, um vislumbre do todo debelado de paixões, o estabelecimento da vida como fenômeno estético que se sobreporia à decadência e às misérias da existência.
Nossa proposta consiste em apresentar a abordagem da filosofia estética de Schopenhauer e do primeiro período do pensamento nietzschiano como formas de ascensão. Nesse sentido a estética apresentaria também um estatuto epistemológico, uma vez que a contemplação artística passaria por uma readequação da percepção, assim como também o plano ético-metafísico seria alcançado por meio da ruptura do princípio de individuação.

14H
Sala 3
Filosofias contemporâneas da arte
Mediação: Rafael Azize
Os sentidos da estética em Wittgenstein
Sílvia Faustino de Assis Saes (UFBA)

O objetivo da palestra consiste em mostrar a espécie de importância que a estética tem no pensamento de Wittgenstein, explorando os vínculos que o próprio autor aponta entre a estética e a filosofia. Tomando como base as observações sobre estética expressas em três momentos diferentes de sua obra — no Tractatus Logico-Philosophicus, nas “Aulas sobre estética” (Lectures & Conversations on Aesthetics, Psychology and Religious Belief), e nas Investigações Filosóficas (parte II, cap. XI) — tentarei apresentar quais poderiam ser os “sentidos” da estética nos seus escritos, sobretudo nos últimos. É meu intuito tentar esclarecer o teor e o alcance de duas instigantes afirmações presentes no livro Culture and Value, quais sejam: i) Há uma “estranha semelhança entre uma investigação filosófica […] e uma investigação estética […]” (p. 25); ii) “As questões científicas podem interessar-me, mas de fato nunca me prendem. Isso só acontece com questões conceituais e estéticas” (p. 79).

A arte no mundo dos aparelhos: Vilém Flusser
Juliana Santos Pereira (UFMG)

O presente trabalho propõe investigar os ruídos de comunicação existentes no campo de relações que envolvem o entendimento da arte contemporânea e o público em geral. Serão investigados os elementos relacionados ao modo como a arte contemporânea se comunica com o público, a partir da teoria de tecido comunicológico e aparelhamento da sociedade de Vilém Flusser. Em sua teoria, Flusser define que a arte possui caráter discursivo, e que somente é dialógica entre agentes do sistema da arte. A hipótese que norteia este estudo é a constante dúvida que paira sobre a arte contemporânea, levando-a a um lugar de incertezas onde o público em geral questiona se o que é apresentado trata-se de arte ou não. Como parte da fundamentação teórica da situação atual da arte e consequentemente do contexto que a colocou nesse cenário de incertezas, o texto do filósofo e crítico de arte Arthur Danto, o “Mundo da arte” será utilizado de forma a complementar a análise.

A semântica fregeana como base da filosofia da arte de Arthur Danto
Anderson Bogéa (UNESPAR)

O objetivo do trabalho é perceber em que medida o pensamento de Gottlob Frege figura como o panorama teórico mais relevante na filosofia da arte de Arthur Danto. Em geral, parece que é Hegel o autor de principal influência sobre a teoria da arte de Danto, apesar deste último, explicitamente, referir-se a Frege em diversas de suas obras. Essa impressão se dá, possivelmente, pelo modo como a filosofia da arte de Danto foi recebida no Brasil. É inegável que a tese do fim da arte de Danto se conecta fortemente com o hegelianismo, e que a história da arte tem papel importante no pensamento dantiano. Entretanto, é notável como em diversas de suas obras – como “A transfiguração do lugar-comum”, ao tratar da estrutura intencional das metáforas; passando pelo “Após o fim da arte”, ao fazer alusão à clássica distinção entre “intension” e “extension”, ou ao recorrer à distinção lógico-filosófica entre uso e menção; ou, ainda, ao definir “objeto semiopaco”, no capítulo “Linguagem, arte, cultura, texto” de “O descredenciamento filosófico da arte”; ou, ao relacionar as propriedades pragmáticas de uma obra de arte à noção de “coloração”, em “O abuso da beleza” –, Danto está usando a teoria do significado fregeano, ou pelo menos algumas de suas intuições na semântica filosófica, como estratégia teórica para fundar sua própria teoria da arte.

16H
Sala 1
Poesia
Mediação: Rodrigo Duarte
A poesia da negatividade de Paul Celan
Jorge Benedito de Freitas Teodoro (FUNIP)

O trabalho pretende apresentar a poesia de Paul Celan – poeta romeno sobrevivente da Shoah – como uma “poesia da negatividade”, priorizando o seu aspecto negativo, que não permite o apaziguamento ou a síntese da violência em sua obra. Assim, em proximidade com o pensamento de Walter Benjamin, espera-se evidenciar a constelação mortuária presente na poesia celaniana como um instante revelador da tensão inerente ao poético, que se põe em contato com o corpo em ruína.

O poema-ensaio como procedimento de reescrita e teste em Marília Garcia
Jessica Di Chiara Salgado (PUC-Rio)

A poesia já foi definida pelo simbolismo como um pensamento por imagens. O parentesco não é novo: as artes poéticas da antiguidade já comparavam pintura e poesia. Nessa chave, no entanto, a poesia aparece como uma mobilizadora de imagens significativas. Na modernidade, a partir de outra tradição poética, que tem talvez em Baudelaire um pilar central, a poesia passou a mobilizar imagens mais insignificantes. Essa tradição permitiu uma nova performance da imagem e da palavra no seio das artes poéticas. A poeta Marília Garcia radicaliza este projeto em Parque das Ruínas (Luna Parque, 2018). Num primeiro momento, a imagem se apresenta como performance da palavra, enquanto a linguagem aparece como performance da imagem, e ambas falham em capturar ou fixar o sentido: são ruínas, vestígios de algo já transcorrido. Num segundo momento, para além da relação entre imagem e palavra, Garcia também recorre à noção de teste e tentativa para integrar à escrita do poema a ideia de ensaio, borrando com isso as fronteiras entre teoria, ficção e biografia. A presente comunicação pretende demonstrar o alcance de uma poética que se coloca propositadamente como um lugar limiar entre a significância e a insignificância e entre biografia e teoria no limite entre palavras, imagens e seus usos a partir da análise de dois poemas de Garcia.

Poesia e teste: procedimentos em Marília Garcia
Zenaide Tamires Costa Santana (Unimontes)

No livro Engano Geográfico (2012), Marília Garcia desenvolve um trabalho a partir do poema do escritor Emmanuel Hocquard. Em Engano Geográfico (2012), vemos que a escrita dá lugar às vozes que surgem no percurso assinalado pelo livro de Hocquard. Assim, mediante essa experiência de escrita, buscamos investigar a importância do deslocamento do corpo e, por conseguinte, da palavra, na escrita de Garcia, uma vez que, vivenciar um teste na linguagem parece já dedobrar o corpo numa outra direção. Desse modo, partimos para leitura dos procedimentos de escrita em Marília Garcia, através do texto de Anne Cauquelin, acerca do incorporal na linguagem, bem como do texto de David Lapoujade, em que o autor possibilita a leitura, com Étienne Souriau, dos modos de existência, e seus cruzamentos.

16H
Sala 2
Merleau-Ponty
Mediação: Bruno Guimarães
Cor e carne: Reflexões sobre ver e ser
Maria Saievicz (UNEB)

O tema “Cor e carne: Reflexões sobre ver e ser” remete ao debate sobre a estética como caminho para a retomada da filosofia e sua tarefa. A fenomenologia de Merleau-Ponty propõe a redescoberta do “logos estético” e, em “O visível e invisível”, aparece o conceito de carne como o elemento ontológico originário. O enigma da visão, posto como chave da exploração do sensível e inquirição do percebido, conduz o filósofo a uma aproximação cada vez maior da experiência do pintor e das artes, como lugar para a compreensão das relações carnais enquanto abertura de ser no mundo. O objetivo da comunicação será articular três noções, carne, visão e abertura, retomando reflexões sobre o fenômeno da cor e da luz. Sobre o controverso conceito de carne e seu status ontológico, serão priorizadas as conceituações apresentadas no capitulo “O entrelaçamento – O quiasma” do manuscrito já citado: a carne como “elemento” do ser; a carne como “enovelamento do visível e invisível, do tangível e do tangente”; e a carne como “emblema concreto de uma maneira de ser em geral”. A ideia principal é mostrar que a ontologia proposta por Merleau-Ponty torna-se acessível pelas vias da estética. Cumpre assim, para levar adiante o projeto da fenomenologia e da ontologia da encarnação, entender a estética não como uma “parte” da filosofia, mas como a filosofa inteira que interroga o ser pela ótica do sensível e da arte e entende o “estético” como qualidade primordial na experiência dos seres carnais.

O olho de Cézanne, uma refutação de Descartes? Observações acerca da profundidade no pensamento de Merleau-Ponty
Carla Mariana da Costa (ULille)

É sabido que o pensamento de M. Merleau-Ponty é atravessado pelo problema da visão e, como afirmou Claude Lefort, a sua filosofia pode ser resumida à questão “O que é ver?”. É, também, conhecida a importância da pintura para as análises merleau-pontianas da percepção visual, bem como o lugar fundamental ocupado por Cézanne na economia do pensamento do filosofo francês. A questão, contudo, da “profundidade” – pensada por Merleau-Ponty em relação direta com o problema da “visão”, é menos presente nos comentários sobre o autor. O presente trabalho pretende discutir, sob dois pontos de vista, a questão da profundidade na obra de Merleau-Ponty, sublinhando, por um lado, a relação entre a visão e o tato a partir da qual Merleau-Ponty constrói seu estudo da percepção visual da profundidade. Por outro lado, pretende-se abordar a relação entre arte e natureza, e notadamente entre pintura e natureza, que decorre do modo como Merleau-Ponty considera o problema da representação (ou expressão) pictórica da profundidade visual. Para tanto, tomaremos as seguintes questões como fio condutor para as nossas análises: de que maneira Merleau-Ponty define a percepção visual da profundidade, em oposição ao modelo tátil e geométrico de Descartes? Em que sentido a pintura de Cézanne serve de modelo para a representação da profundidade própria à visão, a partir do qual Merleau-Ponty interroga a relação entre pintura e natureza?

A espontaneidade do sentido da vida e da obra: uma análise a partir de A dúvida de Cézanne
Tiago Nunes Soares (USP)

Trata-se de explorar, a partir do tema da liberdade, a noção de espontaneidade da vida e da obra que se depreende do texto de Merleau-Ponty sobre A dúvida de Cézanne. A noção merleau-pontiana de liberdade é desconcertante porque não coloca o sujeito como seu único depositário, apresentando a vida como muito mais ampla que seu aspecto estritamente subjetivo. O indivíduo é livre não apenas na medida em que é um ser pensante e consciente de estar no mundo, mas pelo fato de ser portador de uma vida cujo desenrolar escapa de suas vontades, apesar de seus projetos, exigindo dele respostas e tomadas de posição, impondo-lhe como condição a imprevisibilidade diante das possibilidades abertas por suas ações e circunstâncias. Se o sentido de uma vida e o sentido de uma obra, seja ela de Cézanne, de Leonardo, ou de qualquer outro artista, não podem ser explicados unilateralmente pelos dados da vida do artista, nem unicamente por seu projeto pessoal, isso lança a liberdade para além da estreiteza de uma noção subjetivista de vida. A vida que interpreta a si mesma, em Merleau-Ponty, é uma vida expandida desenrolada na tensão entre um projeto e suas contingências, entre seus condicionamentos e possibilidades constantemente abertas. Parece haver, portanto, uma aceitação do que poderíamos chamar de espontaneidade ou “automatismo” da vida e da obra, pois, ao que tudo indica, em Merleau-Ponty seu sentido não se desenrola linearmente e nem de maneira totalmente consciente.

16H
Sala 3
Estética alemã
Mediação: Miguel Gally
Educação estética e estado moral: uma leitura schileriana
Nertan Dias Silva Maia (UERJ)

Em sua obra Sobre a educação estética do homem numa série de cartas (1795), Friedrich Schiller tece fortes críticas ao fracasso político da Revolução Francesa e ao excesso de intelectualismo do esclarecimento, sustentando que estes foram insuficientes para elevar o caráter moral do homem e formar uma sociedade civilizada. Para Schiller, o mau uso das forças políticas por parte do estado e o desenvolvimento unilateral do racionalismo provocaram um descompasso entre as culturas teórica e prática, intensificando a cisão entre os sentidos e a razão do homem, o que teria fragmentado não só sua natureza mista, mas suas relações no âmbito social. Assim, o homem estava impedido de solucionar seu problema político, uma vez que jamais seria capaz de fundar um estado moral sem ter atingido a totalidade de seu caráter. Schiller estava convencido de que a solução para o problema moral do homem não seria dada nem por uma revolução política, muito menos por uma mera cultura teórica, mas por um longo processo de educação estética, mediante o qual o homem poderia, enfim, chegar à liberdade. Tal processo se efetiva através de uma permuta entre as faculdades sensível e racional mediada pela beleza, entendida como um princípio unificador da cultura e como um agente da criação política do Estado e do homem Ideal. Diante do exposto, o objetivo do trabalho é apresentar a relação entre estética e moral a partir das concepções de educação e de estado na referida obra de Schiller.

Entre a psicologia empírica e a autonomia da obra de arte: a estética em Moritz
Pedro Augusto da Costa Franceschini (UFBA)

Da ciência do conhecimento sensível, tal qual cunhada por Baumgarten, até as filosofias da arte do idealismo e romantismo alemães, um dos aspectos mais importantes na consolidação da estética como disciplina filosófica autônoma foi o progressivo deslocamento de sua ancoragem na sensibilidade humana, tratada do ponto de vista da psicologia, para um maior enfoque na obra de arte como totalidade dotada de sua própria linguagem. O pensamento de Karl Philipp Moritz oferece um ambivalente testemunho dessa passagem: célebre por avançar uma concepção autônoma de obra de arte, avessa à abordagem psicológica dos efeitos sobre a alma, o autor foi, não obstante, também um destacado representante dessa mesma psicologia empírica. Para além da aparente contradição entre suas duas frentes de atuação, todavia, sua análise da produtividade artística aponta para uma possível passagem entre esses paradigmas, a partir da formulação de uma força formadora orgânica e objetiva atuante na subjetividade criadora. Elevando a fantasia ao órgão mesmo onde essas instâncias subjetivas e objetivas se cruzam, Moritz faz brotar de uma psicologia, por assim dizer, profunda, uma leitura radicalmente autônoma da imaginação produtiva e de sua linguagem e lógica próprias – a mitologia. Assim, o pensamento de Moritz sugere uma interpretação mais matizada dos movimentos da estética na segunda metade do século XVIII, mas não menos frutífera para os sentidos da nova disciplina.

O paradoxo da experiencia estética no Romantismo alemão
Mónica Herrera Noguera (UDELAR)

Se o Século XVIII foi o século do gosto, o século XIX foi o século do gênio. Para esta “vitória” da produção sobre a recepção do tipo de objetos a serem considerados artísticos, a filosofia desenvolveria um novo discurso sobre a experiência estética. Nele, a autonômia da arte entraria em tensão no que diz respeito ao discurso sobre a arte heterônoma herdada. Tensão essa que se apresenta como um paradoxo entre uma experiência estética que ganharia, cada vez mais, um sentido ou bem inefável ou bem arbitrário. Em qualquer dos casos, afastado do sentido compartilhado tanto por criadores quanto por receptores constitutivo de uma arte deste modo cada vez menos vinculante. Assim, a experiencia estética seria alvo de debate sobre a totalidade da sua relação com a natureza (tanto na crítica da mimesis como no fundamento do ser do gênio) e com uma forma peculiar de conceber o simbolo.
Nesta comunicação, vamos fazer uma analise destas linhas teóricas sob a ótica da polaridade autonômia/heteronômia da arte, mostrando a concepção de experiência estética do Romantismo alemão, não tanto como fundamento teórico da autonômia realizada pelo simbolismo francês, como reza a interpretação tradicional, mas como uma zona umbria própria de uma teoria e de práticas em mutação.

01/12
qua
10H
Plenária
Plenária
Mediação: Rosa Gabriella de C. Gonçalves
Reflective Sentimentalism in Aesthetics: Hume’s Question and Kant’s Answer
Christel Fricke (Universitetet I Oslo)
14H
Sala 1
Modos de presença nos fenômenos estéticos contemporâneos
Mediação: Fernanda Proença
Modos de presença na arte contemporânea
Rizzia Rocha (UFMG)

A partir das implicações de uma forma de produção artística contemporânea orientada pelo lugar, a arte site-specific, proponho uma investigação dos modos de presença desde três formas de manifestações artísticas: a arte baseada no objeto, na arte orientada para o processo e na arte orientada para o evento. Essa discussão tem como fundamento as mudanças provocadas pela crítica à recepção idealista das artes, que tem início na década de 1960, a qual, ao discutir o paradigma essencialista, abre espaço para uma recepção fenomenológica das artes.

Notas sobre os efeitos de presença na experiência estética: espaço e contingência
Anna Luiza Coli (CU Prague/Bergische Universität Wuppertal)

Considerando a problematização do conceito de “presença” tal como proposta por H. U. Gumbrecht, pretende-se pensar a experiência estética a partir não apenas dos “efeitos de sentido”, mas principalmente a partir do que Gumbrecht chama de “efeitos de presença”, e que tem como campo atuante o espaço e o encontro contingente de corpos numa vivência espaço-corporal que explora o campo silenciado pela tradição (fenomenológica, inclusive) da Sinngebung – i.e., da atribuição de sentido. A abordagem pretende oferecer um contraponto à investigação da presença (ou do presente da consciência) a partir da perspectiva quase exclusivamente temporal oferecida pelos teóricos da segunda geração da fenomenologia (nomeadamente Heidegger e Eugen Fink).

Modos de presença no universo da fantasia essata
Valéria Amorim Brandão (UFMG)

A partir da análise da ambiência contemporânea conformada pelas tecnologias digitais disruptivas e pela linguagem binária, busca-se examinar os modos de presença das construções estésico-comunicacionais descortinados pela poiesis computacional, a qual permitiu, em extensa medida, a automação do fazer e das intervenções do homo faber no “mundo da vida”, propiciando, como previsto por Flusser, a escalada da abstração, seja dos instrumentos de manipulação, dos suportes predestinados às criações, ou ainda do substrato utilizado para a configuração de construtos estésico-comunicacionais.

14H
Sala 2
Fenomenologia e artes
Mediação: Carlota Ibertis
Imaginário e lugar comum: os corpos e a interculturalidade na filosofia
Isadora Tochetto Bove (UFBA)

Seja no cotidiano ou na filosofia, as experiências de sentido pelas quais nos conduzimos parecem ser frutos de uma série de atravessamentos, entrelaçando múltiplos campos da existência numa única teia de vida e mistério. São infinitas as perspectivas de acesso ao real, e no entanto, dentro deste plano no qual o pensamento continuamente se lança e se recolhe, só uma terra se habita, comum a todos. Este trabalho quer explorar a interconexão entre as dimensões de interioridade e exterioridade que caracterizam as relações subjetivas e intersubjetivas com o mundo, ou: trata-se de uma busca por compreender os liames entre consciência e situação, bem como as implicações dessa ligação para debates sobre a noção de racionalidade, de identidade humana e sobre as relações entre natureza e cultura. Para isso, a opção foi de partir do paradigma corporal que reúne sensibilidade e inteligência, imanência e transcendência na filosofia de Merleau-Ponty, enfatizando seus textos maduros, na tentativa de organizar elementos que possibilitem uma comunicação ampla entre as áreas da estética e da política. Na relação entre corpo e realidade emerge a questão do imaginário, latente no domínio simbólico e comportamental que determina nosso relacionamento com a vida. Na efervescência do encontro entre os corpos no mundo, no cultivo dos territórios e das tradições que se erigem numa diversidade de saberes e fazeres, é que aqui, agora, põe-se em pauta o pluriverso filosófico, num convite ao diálogo.

Michel Henry: uma contra-estética da representação
José Luiz Furtado (UFOP)

A estética de Michel Henry – porque sua filosofia da arte é eminentemente estética – constrói-se sobre o fundo da uma crítica radical da noção de representação. Sua crítica da representação se faz em nome da unidade transcendental da essência patética da vida e da imanência da sua revelação de si. Enquanto imanência, a vida não aparece, nem pode fazê-lo na abertura ekstática do mundo, segundo um “não aparecer” que nada deve a qualquer forma de velamento ou retração do ser. A arte abstrata de Kandinsky será tomada por Michel Henry, não sem alguma ambiguidade, como “representação da vida” ou “figura da vida”. A pintura nada representa do mundo e, no entanto, ela representa as modalidades possíveis da sua mundanização na medida em se apoia sobre um “premier dehors”. “A questão da pintura abstrata é a questão do cosmos”, escreve Henry. Para dirimir estas aparentes incoerências, pretendemos retomar a noção de “figura” como simples imagem da vida ou “imago afetiva do mundo” .

A audição do tempo-duré: uma crítica ao "bergsonismo" na filosofia da música de Vladimir Jankélévitch
Ricardo Miranda Nachmanowicz (UFOP)

Segundo Vladimir Jankélévitch a música é uma arte em estreita relação com o tempo, de modo que a escuta musical coincide com a operação unidimensional de escuta intensiva e duracional do som. A concepção do autor é explicitamente devedora do conceito de tempo “duré” de Bergson. Contudo, a prova fenomênica ou intuitiva alegada por Jankélévitch para sustentar a tese defendida em “A música e o inefável” — de que a música e a escuta musical devam ou possam carregar as mesmas propriedades do tempo “duré” de Bergson — enfrenta um mesmo problema em dois tempos: a da adequação entre a concepção de tempo de Bergson e a realidade musical, e de outro lado, entre os aspectos compositivos e estéticos da arte musical e as descrições e explicações defendida por Jankélévitch. Concluímos que (1) os exemplos alegados por Jankélévitch não são suficientes para sustentar que a escuta musical equivale à escuta das propriedades originarias do tempo como entendido pelo ‘bergsonismo’ e que (2) esse fato implica um problema tanto para a consideração da máxima “a música é a arte do tempo” defendida pelo autor, quanto para a possibilidade geral de uma adaptabilidade entre a filosofia da duré de Bergson e a escuta musical.

14H
Sala 3
Questões sobre o feminino
Mediação: Marcela Oliveira
Línguas selvagens não podem ser domadas: do problema filosófico para pensar uma linguagem feminina e as imagens da arte
Juliana de Moraes Monteiro (UFRJ)

O artigo discute como a metafísica da tradição foi marcada por um regime discursivo calcado sobretudo na teoria aristotélica no livro Gama da Metafísica, que poderia ser classificado como masculino. Tendo em vista uma visada filosófica sobre o problema da linguagem, pretendo explorar as consequências políticas desse projeto que historicamente excluiu e silenciou mulheres ao aliar uma linguagem logocêntrica ao falocentrismo de uma cultura patriarcal, sendo este um corolário daquele. Mobilizando referências da filosofia, sobretudo a partir da obra da filósofa francesa Barbara Cassin, da psicanálise de matriz freudiana e lacaniana e sem prescindir do recurso incontornável ao modo como a estética se debruçou sobre esse problema, o texto busca interrogar se haveria uma experiência feminina da linguagem que nos permita pensar uma saída dos imperativos do sentido e da significação legados por Aristóteles ao pensamento ocidental. Partindo do pressuposto de que as imagens que atravessam o campo da cultura são produzidas também enquanto atos linguísticos, busco, seguindo de perto as abordagens do filósofo francês Georges Didi-Huberman na construção de uma outra epistemologia para a história e a filosofia da arte, revisitar uma iconografia incômoda do apagamento discursivo das mulheres e apontar o contramovimento que diversas obras de arte têm travado no simbólico a fim de combater posições de desqualificação de significantes aliados ao feminino.

Arte, feminino e exílio: um olhar psicanalítico à obra de Ana Mendieta
Gabriela Gomes da Silva (UFRGS)

O trabalho tem como objetivo discutir o enlace da obra de Ana Mendieta como provocação a uma estética psicanalítica. O trabalho de Ana Mendieta opera por uma visualidade que produz angústia e inquietação, seu corpo é o palco para temas que interpelam a morte e a violência e expande o território do feminino para além da referência fálica, sem a intenção de apaziguar tensões em seu espectador. A vida pessoal de Ana Mendieta e seu trabalho entrelaçam-se. Sua trajetória marcada pelo exílio suscitou em uma arte que explora para além de questões do feminino, origem e colonialismo a partir de uma dimensão política. Também atua decodificando o olhar fálico e que, sobretudo, circundam o prazer visual. Esta pesquisa tensiona um possível transitar das obras da artista frente a duas figuras estéticas trabalhadas por Sigmund Freud, sendo elas: o Infamiliar e o estrangeiro através dos textos “O Infamiliar” (1919) e “Moisés e o Monoteísmo” (1939).

O protagonismo da voz e a emancipação dos corpos na estética teatral feminista
Bruna Rodrigues Dias Testi (UFF)

Como tirar dos corpos uma marca que condiciona a existência da mulher a determinada forma de submissão? Como abstrair dos corpos uma marca que sequer ao corpo pertence? Silvia Federici, em “Calibã e a Bruxa”, dedica parte de seus estudos a explicar “como para as mulheres o corpo pode ser tanto uma fonte de identidade quanto uma prisão, e por que ele tem tanta importância para as feministas, ao mesmo tempo que é tão problemática a sua valoração”. A presente proposta de apresentação propõe-se a debater essa tese a partir da peça “Vaga Carne”, de Grace Passô. A peça em questão subverte a representação tradicional do corpo na medida em que dá vida à voz e nos convida a um experimento cênico que rompe com a paradigmática noção da forma dramática, não somente pela quebra da identificação, ou pela desnaturalização de elementos e processos, mas pela experiência que parte do próprio corpo feminino enquanto estrutura carcerária. Interessa-nos aqui articular os elementos da cena, do espaço, do texto e do discurso, como mecanismos de investigação crítica, de intervenção política, de mobilização estética, reconhecendo que a voz aprisionada pelo corpo é a mesma voz silenciada pelo sistema. Nas palavras de Grace Passô, “eu não sou uma mulher andando entre corpos humanos. Eu só estou presa aqui. Eu me recuso a entrar nesse sistema, nesta ilusão. Há outras formas de vida, e isso precisa ser dito”.

16H
Sala 1
Coordenadas para una cosmoestética materialista posthumana
Mediação: Rosa Gabriella de C. Gonçalves
Estética plantística del fin del mundo. Entre plantas radioactivas y flores robóticas
Noelia Billi (UBA)

Muchas de las prácticas artísticas contemporáneas preocupadas por la emergencia ambiental se orientan a poner en primer plano la agencia de entidades no humanas como contrapeso imaginario de los procesos de destrucción de los ecosistemas originados en la acción humana. En esta ponencia voy a revisar dos prácticas artísticas que atribuyen al reino vegetal una percepción del mundo que nos devuelve una imagen distinta de él. En primer lugar, analizaremos el Herbario de Chernóbil (2016), una obra de Tondeur y Marder que conjuga fotografías y ensayística de las plantas radioactivas resultantes del desastre nuclear ocurrido en la ciudad ucraniana. En segundo lugar, la obra de Joaquín Fargas, Sunflower, centinela del cambio climático (2007), una obra de ingeniería robótica que semeja la dinámica de la flor para operar como estación meteorológica en la ciudad más austral de Argentina, Ushuaia. En ambos casos, el sensorium vegetal da lugar a la expresión del fin del mundo tal como creemos conocerlo y, a la vez, la oportunidad de poner en cuestión el privilegio asignado a la agencia humana en la narración y configuración de mundos habitables.

A última floresta. Pedagogía imaginaria para comedores de tierra
Guadalupe Lucero (UBA)

En este trabajo proponemos una posible lectura de la película A última floresta (2021) dirigida por Luiz Bolognesi y con guión de Davi Kopenawa Yanomami, a partir del concepto de cosmoestética. Este concepto permite conjugar la dimensión político-imaginaria de la estética con la noción de cosmopolítica (Stengers). Una cosmoestética, entendida como diplomacia imaginaria, nos permitirá analizar las imágenes, sonidos y palabras que el film ofrece, más allá de toda lógica documental. Nos gustaría argumentar en favor de una interpretación del film a partir del modo en el que éste se inscribe en la serie intervenciones políticas y acciones diplomáticas que los pueblos de la selva construyen como un teatro de operaciones contrailustrado del conflicto colonial siempre continuado.

Canción foránea. Diplomacia, correspondencia y medialidad en dos obras de Claudia Fontes
Paula Fleisner (UBA)

Desde un marco materialista posthumano, una cosmoestética como la que buscamos plantear nos permitiría, por un lado, pensar la agencialidad propia de la materia involucrada en las obras de arte por fuera de la lógica artista/forma – material/formado; y por el otro, experimentar con opciones no antropocentradas para la imaginación y percepción. En esta oportunidad, analizaré dos obras de Claudia Fontes expuestas en la muestra Simbiologías del Centro Cultural Kirchner en 2021, “Canción” y “Foreigners”, con el objetivo de pensar en ellas la dimensión política involucrada en la diplomacia no humana que proponen. Del tamaño de una mano, como pequeños juguetes que invitan al oído y al tacto a participar del encuentro, estas piezas ofrecen también la sutil experiencia de la anfibología política del huésped (a la vez hostil y bienvenido) que viene a evidenciar la correspondencia medial de las criaturas y entidades que habitan los mundos de este mundo.

16H
Sala 2
Kant além de Kant
Mediação: Ricardo Nachmanowicz
Kant em Hollywood: crítica da razão, estética e indústria cultural na Dialética do Esclarecimento
Jeferson de Jesus Nicácio (UFBA)

Ao tecer o diagnóstico de que o capitalismo contemporâneo se tornou sobretudo um capitalismo cultural, visto que a cultura figura enquanto dimensão fundamental dos processos de racionalização existentes, Adorno e Horkheimer articulam a um só tempo uma crítica da razão e uma crítica da cultura tomando a estética como campo filosófico fundamental da reflexão acerca das nossas formas de vida. Mas se lembrarmos como Kant já havia apresentando o problema da razão como um problema estético e a estética como um problema da razão, poderemos perceber como os autores frankfurtianos resgatam a obra kantiana a partir de noções como esquematismo do entendimento para transformar a experiência estética em um modelo de uma racionalidade mais ampla para a reflexão sobre as nossas formas de vida culturais contemporâneas. Assim, afirmam que a indústria cultural “fornece o esquematismo como o primeiro serviço ao consumidor”, o que implica numa anulação completa da oposição e mesmo da ligação entre o universal e particular, sendo o particular liquidado de antemão. Desse modo, nosso trabalho concerne em mostrar como esses autores, ao resgatarem a noção de esquematismo do entendimento kantiano, não só defendem a ideia de que a percepção é totalmente enquadrada pelo esquema fornecido pela indústria de e a tensão dialética constitutiva da obra se anula, mas como podemos pensar crítica da razão e crítica da cultura de maneira articuladas, operação que encontramos já na obra kantiana.

Os sonhadores da sensação são os sonhadores da razão: Kant e os espectros
Walter Romero Menon Jr. (UFMG)

No texto de 1766 “Sonhos de um homem que vê espíritos explicados pelos sonhos da metafísica”, Kant aproxima aqueles que acreditam em um mundo imaterial dos espíritos e na comunicação com esses daqueles que ele denomina de arquitetos de ar, os metafísicos, artífices de mundos ideais, nos quais cada um habita o seu com exclusão dos outros, fazendo aí entrar muito pouco material oriundo da experiência. Os exemplos são Wolff e Crusius. No centro da analogia entre o mundo dos espíritos e os mundos metafísicos encontra-se o mundo do sonhador, aquele que, segundo Kant, podemos derivar da última frase da celebre afirmação de Aristóteles de que os humanos quando em vigília compartilham um mundo comum, já quando sonham cada um tem seu próprio mundo. Mark Fischer, no capítulo sétimo de “Realismo capitalista: É mais fácil imaginar o fim do mundo do que o fim do capitalismo?”, afirma a sobreposição coincidente de “realidades” que fundamenta o realismo capitalista, como o trabalho do sonho e a desordem da memória. Não estaria aí a própria essência do sonho acabado de uma onirocracia do capitalismo em que o sujeito que sonha só tem existência na condição de sujeito espectral de seu próprio sonho?

Norma e narração na questão do juízo estético-político em Hannah Arendt
Pedro Gallina Ferreira (Unicamp)

O tema da exposição é a indagação sobre os pressupostos do problema da normatividade, contido na ligação estabelecida entre juízos estéticos e juízos políticos por Hannah Arendt, em sua interpretação do pensamento de Immanuel Kant. No núcleo do problema está a tese de que a norma é constituída pelo caráter da justificação e da orientação dos tipos de juízo em relação à natureza da ação política – uma distinção que pende para o déficit normativo do juízo estético, pela experiência solitária e peculiar ausência de conceitos determinantes no seu procedimento de reflexão. No entanto, um arranjo comparativo do problema deve considerar o significado de estética e ação no pensamento de Arendt. Meu objetivo é abordar esse problema relacionando a fenomenologia da ação de Arendt com seu ponto de partida histórico-político, dando especial atenção para as noções de aparência, linguagem e narração. Proponho confrontar a leitura do déficit normativo, que surge nas Lições sobre filosofia política de Kant, com a função da percepção estética (A vida do espírito) junto ao conceito de ação (A condição humana), de modo a mostrar como a fenomenologia arendtiana pressupõe a ideia de história como narrativa, principalmente em sua dimensão de experiência estética trágica. Procuro mostrar como o espectador, refletindo sobre as percepções de mundo e de self no debate público, pode criticar princípios da ação ao julgar experiências subjetivas segundo uma “mentalidade alargada”.

16H
Sala 3
Rancière
Mediação: Pedro Franceschini
O sensível heterogêneo em Rancière: um embate entre a loucura quixotesca e a razão cartesiana
Daniela Cunha Blanco (USP)

O cavaleiro errante dom Quixote – personagem do livro de Miguel de Cervantes Saavedra – é visto como um acontecimento inaugural da literatura moderna. Que um cavaleiro errante e louco seja alçado a herói da modernidade pode causar espanto; afinal, expressaria a afirmação do erro e da loucura como figuras da razão moderna. Razão esta que logo associamos a um outro personagem da modernidade: René Descartes, para quem justamente o erro e a loucura aparecem como alvo contra o qual a razão deve lutar em busca da verdade e do pensamento claro e distinto. Com um campo de experiência configurado entre Descartes e dom Quixote, o pensamento fica, ao mesmo tempo, delimitado pela clareza e distinção das ideias como modo de acesso à verdade e atravessado pela errância do herói louco que entrega seu corpo à literatura. A partir do embate entre essas duas figuras opostas, pretendemos pensar como o cavaleiro errante aponta para aquilo que Jacques Rancière compreende como uma reconfiguração do estatuto do sensível que teria precedido o próprio surgimento da estética enquanto disciplina filosófica. A configuração do regime estético das artes se fundamentaria em “um modo de ser específico do sensível, de um sensível heterogêneo, subtraído das conexões habituais do conhecimento e do desejo, e tornado manifestação de uma identificação entre o pensamento e o não pensamento”. A loucura de dom Quixote não seria ausência de razão, mas sim um outro modo de pensamento.

O significado de estética e seus desdobramentos na filosofia de Jacques Rancère
Gabriel Andrade Coelho Moreira (UFOP)

Com base na leitura dos ensaios “O que significa ‘estética’?” e “O ressentimento antiestético”, pretendo apresentar algumas das características centrais das reflexões de Rancière a respeito da sensibilidade e das artes. Para tanto, caberá discutir sobre a interessante relação apresentada pelo filósofo a partir dos seguintes exemplos: a apreciação de um palácio brevemente comentada por Kant; a escultura Juno Ludovisi descrita por Schiller; a pintura “O jovem mendigo” de Murillo apresentada por Hegel; um texto ficcional publicado por um jornal operário durante o período da Revolução Francesa de 1848; e a instalação Eu e Nós do grupo Campement Urbain nos subúrbios de Paris. Aparentemente distantes, esses exemplos ajudarão a compreender as considerações de Rancière sobre alguns aspectos do modernismo, bem como os paradoxos do regime estético, em especial sobre a autonomia das artes em paralelo ao seu potencial político emancipatório. Em contrapartida, essas reflexões também servirão de suporte para discutir o modo como Rancière se posiciona contra o que ele denomina ressentimento antistético, panorama presente, embora de diferentes maneiras, em autores como Bourdieu, Schaeffer, Badiou e Lyotard. Ao fim da comunicação, buscarei elencar alguns dos pontos principais da concepção de estética desenvolvida por Rancière, considerando-a como discurso sobre as formas de configuração do mundo sensível, em detrimento das formulações que a postulam como teoria geral das artes.

Entre fantasmas e suspensões: uma leitura cruzada entre Jacques Derrida e Jacques Rancière
Renan Ferreira da Silva (USP)

A comunicação tem como objetivo apresentar uma leitura cruzada das teorias de Jacques Derrida e Jacques Rancière a partir da presença das ideias de “espectro” e “fantasma” em seus escritos – leitura que intenta, mais do que revelar uma aproximação teórica subjacente, compreender a ideia de “existências suspensivas” ou “existências inexistentes”, outro nome para o conceito de ficção literária de Rancière, como uma radicalização do espectral derridiano. Apesar de ambos os autores possuírem projetos filosóficos distintos – enquanto a escritura de Derrida volta-se para a crítica da metafísica e do seu logocentrismo imanente, o trabalho de Rancière procura perceber uma forma de compreensão das relações entre modos de ser, dizer e fazer –, tanto a desconstrução derridiana quanto a filosofia igualitária rancièriana propõem “pensar o fantasma” ou “pensar com os espectros”, defendendo a ideia de uma existência mínima e paradoxal, um devir-corpo que perturba toda a lógica do próprio e da propriedade. Faz-se necessário, para tanto, compreender o conceito de “espectro” percorrendo a primeira parte de Espectros de Marx, em especial a leitura feita por Derrida de Hamlet, para aproximá-lo, em um segundo momento, da ideia de igualdade na obra de Rancière.

02/12
qui
10H
Plenária
Plenária
Mediação: Miguel Gally
Ainda a "arte contemporânea”
Celso Favaretto (USP)
14H
Sala 1
O efeito estético como provocação ética na literatura de Milan Kundera, Neli Campobello e Glauco Mattoso
Mediação: Sílvia Saes
O idílio como manipulação do efeito estético na obra de Milan Kundera
Maria Veralice Barroso (UNB)

A obra romanesca de Milan Kundera bem como sua proximidade à estética do romance moderno suscitou e ainda hoje suscita inúmeros males entendidos, especialmente em razão do efeito estético, causado pela suposta violação de padrões éticos tanto por meio do riso, quanto por meio do erotismo. Se enquanto pensador da estética do romance, Kundera fez questão de se aproximar do gesto filosófico que orientou a produção literária de Kafka e Broch, de um ponto de vista da criação literária, ele fez do romance um lugar de exploração filosófica dos conflitos humanos. Amparada nas perspectivas teóricas da Epistemologia do Romance e entendo o idílio como um conceito que perpassa a estética kunderiana, o objetivo da presente comunicação é procurar compreender de que modo esta ideia conceitual, esteticamente elaborada, interfere na recepção pautada pelos princípios éticos do leitor.

“Eu sou um paradoxo”: A racionalidade estética no gesto criativo de Glauco Mattoso
Ana Paula Aparecida Caixeta (UNB)

O caráter experimental da escrita de Glauco Mattoso, tão aguçada em seu desbunde literário, marca sua fase visual e o insere em um cenário artístico irreverente, que vai do concretismo ao pastiche, sustentando um conteúdo transgressor e desconsertando a tradição. Paradoxalmente, Mattoso se vale de uma racionalidade estética como condução criativa de sua obra, evidenciando uma intencionalidade sensível aos conflitos do sujeito moderno e contemporâneo. Partindo dessa reflexão e amparada pela discussão teórica da Epistemologia do romance, esta comunicação tem como objetivo explorar questões do efeito estético provocadas pela ficção de Glauco Mattoso, considerando sua obra como intencionalmente confrontadora de uma ética.

A manipulação do efeito estético como elemento de credibilidade em Cartucho, de Neli Campobello
Janara Laiza de Almeida Soares (UNB)

A noção de efeito estético aqui apresentada se desenvolveu no âmbito dos estudos estéticos da teoria da Epistemologia do romance. Assim, amparada por discussões estéticas advindas deste campo teórico e dialogando com sistemas de pensamento modernos e contemporâneos, esta comunicação tem por objetivo propor uma reflexão que, a partir da compreensão de efeito estético, pretende trazer o complexo jogo criado entre o ético e o estético no universo da obra literária Cartucho da mexicana Neli Campobello. Por meio de inversões da condição do narrador, as quais criam uma sensação de credibilidade, nesta narrativa, as intencionalidades acionam a razão que articula e manipula os elementos internos de modo a tocarem em questões morais e éticas do leitor

14H
Sala 2
Heidegger e Ricouer
Mediação: Douglas Garcia
Considerações de Paul Ricoeur sobre a narrativa pictórica
Leonardo Canuto de Barros (USP)

No documentário “Paul Ricoeur, filósofo de todos os diálogos” (2007), dirigido por Caroline Reussner a partir do testemunho de grandes interlocutores do filósofo, entre eles Olivier Abel e François Dosse, Paul Ricoeur aparece na cena inicial em frente a um dos grandes murais de ninfeias pintados por Monet. Nessa cena, o filósofo diz que a pintura coloca um problema semelhante ao da narrativa literária, porque em ambas há a criação de uma ordem, de um mundo completo, um mundo que efetivamente nunca vimos, mas que é possível habitar através da obra, por isso a pintura poderia ser classificada como uma narrativa pictórica. Nesse sentido, nada seria mais enganador do que afirmar, assumindo uma postura platônica, que diante da pintura temos apenas uma imagem que diz menos do que o real, pois, na verdade, esse objeto frio e fechado que é a tela surpreendentemente nos conduz para além de suas próprias fronteiras, oferecendo-nos mais do que a própria realidade. Ricoeur assevera que a pintura é como um horizonte de percepção, e não como um objeto de percepção. Isso vai ao encontro do que o autor dizia sobre a capacidade de a literatura operar variações imaginativas sobre o real ao metamorfoseá-lo. Nessa cena do documentário, nota-se que Ricoeur apresenta algumas de suas ideias sobre a pintura tendo como panorama o impressionismo de Monet, mas como defender, por exemplo, a manifestação de um princípio ordenador na arte não-figurativa? É disso que nossa exposição tratará.

Questões sobre a arte hoje: metafísica, crise, presença... Outro paradigma é possível?
Luciana da Costa Dias (UFOP)

Ainda que a histórica da estética, como disciplina filosófica, comece com a modernidade, não podemos ignorar que o questionamento acerca da natureza da arte começara ainda antes. A questão fora colocada pela primeira vez no mundo ocidental por Platão, o qual já esboçara todo um horizonte possível de desenvolvimento e interpretação da questão. Se a história da arte é paralela à história da metafísica, o seria, também, de sua crise. A questão da arte vêm se reconfigurando profundamente desde a segunda metade do século XX – sobretudo a partir da influência do trabalho seminal das vanguardas, que acabariam por conduzir ao atual paradigma da arte como ação, acontecimento e, sobretudo, presença. Este paradigma subverte a estética tradicional da modernidade, em sua perspectiva metafísica de obra de arte como um objeto diante do qual um sujeito se coloca, indo em direção à perspectiva na qual o corpo/obra não é apenas uma realidade externa observável, controlável, mensurável; antes é a experiência primordial da existência em toda sua contradição e no modo como ela pode ser, a cada vez, resgatada e revivida. Algumas questões norteadoras para este trabalho: “desestetizar” a arte é o mesmo que “desmetafisicá-la”? Tirar a arte da perspectiva metafísica é descolonizar nossos sentidos? A discussão aqui empreendida será construída em perspectiva hermenêutico-fenomenológica, a partir do diálogo com autores como Heidegger, Gumbrecht, Artaud, Mendieta e Krenak.

Arte e Técnica: os fundamentos metafísicos da estética no pensamento de Martin Heidegger
Juliano Rabello (UFMG)

A presente comunicação visa a demonstrar a íntima relação entre os pressupostos metafísicos da tradição estética e a questão da técnica no pensamento de Martin Heidegger. Nosso objetivo será tratar dessa temática levando em consideração que tal relação é um dos traços imprescindíveis para a compreensão das noções de arte e niilismo na obra do filósofo alemão. Segundo Heidegger, a tradição estética, e todo pensamento metafísico que se desenvolve no ocidente, expressa-se por um profundo desenraizamento entre homem e natureza (φύσις), marcando, decisivamente, o “esquecimento da verdade do ser”. Na era moderna, tal esquecimento agrava-se, refletindo-se, assim, no “perigo” da técnica que se anuncia pela instrumentalização da ciência e pela indigência da condição existencial do homem frente à falta dos fundamentos metafísicos tradicionais. A modernidade apresenta-se como uma época de absoluto domínio do ente pelo cálculo, que concede um modo específico de relação entre o homem com os entes e consigo mesmo, onde a arte aparecerá também compreendida nesse mesmo horizonte. Segundo o filósofo, a técnica configura-se como expressão máxima do niilismo enquanto completo “abandono do ser” na era moderna. Nessa perspectiva, buscaremos mostrar como a estética, na medida em que emerge a partir dos fundamentos da metafísica ocidental, pode ser pensada como um fenômeno essencialmente niilista de uma era na qual o ser é concebido fora de seu relacionamento essencial com a existência humana.

14H
Sala 3
Benjamin
Mediação: Rafael Azize
Vociferações da infância: uma alternativa menor frente ao emudecimento contemporâneo
Bárbara Soeiro (UFBA)

A queda da experiência (Erfahrung), anunciada por Walter Benjamin no cenário devastador do pós-Primeira Guerra Mundial, assume na contemporaneidade contornos próprios. A profusão desenfreada de informação, a dinâmica de vida cada vez mais veloz, a predominância da lógica e gestão mercantil (de si, inclusive) apontam para o que o filósofo italiano Giorgio Agamben defende em seu Infância e História: não o simples declínio, mas, já agora, a descredibilidade definitiva da autoridade da experiência. É Didi-Huberman, contudo, em Sobrevivência dos vaga-lumes, quem nos oferece um novo horizonte: o das luzes menores, capazes de se fazer visíveis mesmo no interior da grande claridade que nos cega. Delas, o presente trabalho busca se acercar. Se as considerações benjaminianas estão diretamente ligadas à figura do “contador de histórias”, à preservação e reinvenção das narrativas da nossa tradição, a voz infantil surge aqui como contraponto ao temor pressentido outrora: a saber, o de um emudecimento total e sem escapatória. A voz trêmula, o balbuciar, a confusão de sonoridades, bem como os gritos que irrompem em meio às brincadeiras e jogos. Tais vociferações infantis, dispersas e caóticas, apontam para uma direção outra: a de uma abertura por vias insurgentes, de agitação e motins, de transgressão e revelia; de um enfrentamento, pelo menor, ao terror e às obscuridades que parecem se sobrepor em nosso tempo.

História da arte e crítica da história em Walter Benjamin
Fernanda Ramos (UNICAMP)

Em um célebre currículo (1928), Benjamin afirma que o filósofo italiano B. Croce privilegiou a obra de arte concreta e singular em detrimento da divisão em gêneros. Alinhando-se a isso, afirma que pretende voltar-se à obra para romper com a concepção de arte enquanto domínio de conhecimento específico e com o isolamento rígido das disciplinas, conceito de ciência do séc. XIX. Para isso, a obra de arte também deve ser reconhecida como expressão das tendências de uma época, bem como o faz o historiador da arte A. Riegl a partir da doutrina da vontade artística. Croce e Riegl partilhavam do ímpeto crítico do início do séc. XX às disciplinas da arte; julgavam que o olhar sobre as obras e a forma de análise não priorizavam os objetos artísticos, mas elementos extrínsecos: contexto de produção, biografia do artista ou, ainda, abstrações formais de estilos ou gêneros.
Benjamin alinha-se a essa crítica e ao investigar o drama barroco alemão, diagnostica que as pesquisas do séc. XIX sobre o período apenas sincretizavam estudos histórico-culturais, estilísticos e biográficos, oriundos de uma postura historicista e “empática” que desconsiderava as peculiaridades das obras e sua recepção. A partir disso, pretendemos pensar como esses elementos – a obra de arte individual e expressão das tendências de uma época – são transformados e reelaborados de forma crítica por Benjamin e vão compor aspectos fundamentais de seu olhar para a história da arte e, em última instância, para a história.

O herói não trágico de Brecht, entre o barroco e o épico
Daniel Alves Gilly de Miranda (UNIFESP)

A comunicação reapresenta a interpretação da peça “Um homem é um homem”, de Bertolt Brecht, feita por Walter Benjamin nas duas versões do ensaio “O que é o teatro épico?”, no qual o crítico aponta para a proximidade deste teatro com um objeto ainda pouco explorado pela recepção brasileira: o teatro barroco alemão. Benjamin situa a origem do teatro brechtiano como a retomada de um confronto com a naturalização da realidade enquanto ideologia, como um domínio imutável do mito, que já se havia solidificado na subversão barroca e melancólica da tragédia. Brecht, a partir da tentativa de dar corpo ao filósofo em seu palco, enquanto um “herói não trágico”, juntamente com inovações técnicas provenientes de outros meios artísticos mais recentes, não se limita a refletir sobre a realidade como um dado imutável da natureza, mas pretende operar nela uma reordenação que revele a origem histórica de seus processos constitutivos. Esta posição fornece a Benjamin elementos para pensar uma forma de lidar esteticamente com a ambiguidade mítica que se situa numa dialética entre o trabalho de luto por possibilidades históricas reprimidas e o despertar destas mesmas possibilidades como promessas utópicas de salvação. Assim, Galy Gay, de “Um homem é um homem”, é apresentado como a reconstituição e o inacabamento originários de um herói cindido entre a recusa não trágica do mito, a função didática do filósofo e o perigo da entrega melancólica à conversão em objeto das classes dominantes.

16H
Sala 1
Estética das luzes
Mediação: Vladimir Vieira
O discurso e a imagem: sentido e artifício
Pedro Fernandes Galé (UFSCar)

O artifício discursivo tem sido um recurso usual diante da imagem artística, por vezes o discurso submete a imagem, mais raramente a imagem se impõe na sua não aderência ao discurso. A apresentação buscará apresentar, diante de alguns exemplos históricos a complicada relação, por vezes tomada como pacífica, entre a imagem e a palavra, o visual e o discursivo. Seja em uma pretensamente simples descrição, ou em um sofisticado sistema das artes, a relação do discurso estético com as artes sempre se fez de modo a tornar patente suas capacidades e seus limites, o que tentaremos mostrar é que diante da tensa relação entre imago e discurso é que se colocam as mais variegadas questões e se fundamentam muitas das mais intensas contendas acerca do elemento artístico. Examinar essa relação a partir das doutrinas que prescrevem e os sistemas que submetem seria um passo interessante para entender a fundamentação da estética enquanto disciplina filosofia, bem como seus abusos, desvios e limites.

Tocar e ver: escultura e pintura no século XVIII
Carlota Ibertis (UFBA)

Desde seus inícios e até, pelo menos, o século XVIII – em que parece ser posta em questão –, a crença na superioridade da visão em relação ao tato tem preeminência na filosofia. Com o propósito de examinar os avatares da relação entre esses tipos de sensações e as – assim chamadas na época – “belas artes”, a comunicação parte da polêmica teórica entabulada na Academia Real de Pintura e Escultura de Paris, entre os que defendiam as cores como o essencial da pintura e os que enxergavam no desenho o fundamental dessa arte, no último quarto do século XVII. Assentada sobre a valoração positiva da visão, a discussão dos acadêmicos fornece o horizonte a partir do qual é possível abordar a diferença entre pintura e escultura, acrescentando-se a consideração do tato. Assim, a especificidade da escultura é examinada associada à sensação tátil e com base em aspectos das concepções de autores vinculados à Encyclopédie, como Falconet, Diderot e Condillac. A análise irá pôr em evidência a importância da figura do cego, tanto em obras pictóricas, quanto em textos da época em torno da temática.

Diderot, Sade e a delimitação de uma estética da intensidade
Clara Carnicero de Castro (USP)

Michel Delon usa o termo “estética da intensidade” para falar de uma energia explorada, em seu máximo grau, esteticamente. Ele se refere à obra de Diderot e de Sade, principalmente, mas mostra que é possível pensar nessa “estética da intensidade” como “uma estética nova”, “que recomenda o movimento, a surpresa e o choque” e que é, na verdade, buscada por vários autores ao longo do século XVIII. Outros comentadores, como Jean Starobinski e Jacques Chouillet, também notam esse fenômeno. É como se houvesse uma modificação no gosto do público, que deixa de lado as representações tranquilas, procurando efeitos intensos em representações mais monumentais: grandes crimes, catástrofes naturais, incêndios, etc. A arte seria, assim, julgada conforme a intensidade da sensação que o contemplador experimenta. O próprio conceito de belo parece por vezes se assimilar ao de sublime, já que as sensações leves e agradáveis perdem seu valor estético nesse contexto. O objetivo desta comunicação é, com base em textos estéticos de Diderot e de Sade, tentar melhor delimitar o sentido dessa estética da intensidade.

16H
Sala 2
Dadaísmo e Surrealismo
Mediação: Daniel Gilly
Sobre o dadaísmo em Walter Benjamin
João Felipe Lopes Rampim (UNICAMP)

Trata-se de abordar a interpretação de Walter Benjamin sobre o dadaísmo, lançando luz sobre o aspecto revolucionário que o autor nele enxerga por meio de uma articulação de seus aspectos produtivo e receptivo. Para tanto, retomaremos os ensaios “O autor como produtor” e “A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica”, nos quais Benjamin trata do dadaísmo. Embora variem os nomes dos autores citados em ambos os momentos, a caracterização de suas obras visuais permanece praticamente a mesma: valoriza-se o aspecto construtivo de suas composições, o caráter degradado do material empregado e a ruptura com o tempo da tradição em sua recepção. Mostraremos como, nesse ensaio de experiência estética, o valor de uso revolucionário se alinha, para Benjamin, à ruptura com os domínios fechados e especializados da atividade humana e, por outro lado, à correspondência expressiva das obras ao modo de percepção da Modernidade, configurado em torno do conceito de choque.

Estética surrealista, anacronismo, e produção de sentido
Rosa Gabriella de Castro Gonçalves (UFBA)

A aproximação entre obras de arte de vanguarda e objetos naturais ou originários de outras culturas, com o objetivo de produzir novos sentidos graças a aproximações inusitadas entre objetos arrancados de seus contextos originais, foi recorrente entre os surrealistas. Fascinados pelo desconhecido, pelo exótico, pelo insólito, pelo colecionismo, por objetos deslocados e pelas derivas em mercados de pulgas, bem como pela utilização de técnicas como a colagem e a montagem, os surrealistas acreditavam que a irrupção dos objetos em contextos inesperados poderiam expandir a consciência para além do já demasiadamente conhecido. Contemporaneamente, George Didi Huberman propõe igualmente a suspensão da história da arte eucrônica por acreditar que esta é apenas uma idealização, uma vez que a própria memória é necessariamente anacrônica e, assim como a estética surrealista, lança mão de montagens e reconstruções ancoradas no inconsciente. Assim, suspender a censura que restringe a história da arte tradicional, que almeja evitar a incongruência e o estranhamento, seria, em realidade, um caminho frutífero para revelar novos sentidos.

O belo e a magia: uma questão estética do Surrealismo
Sulamita Fonseca Lino (UFOP)

Em 1957, Breton publica L’art magique: une histoire de l’art, obra na qual foram retomados temas estudados por ele nas décadas anteriores, como o fascínio pelo misterioso, o desconhecido e o maravilhoso. O trabalho foi constituído através de um vasto levantamento para justificar a proposta de escrever uma história da arte não histórica, que considerasse a magia como a questão que perpassa a produção artística de modo independente. Além disso, no texto encontramos uma problematização de que no interior do Surrealismo houve a busca por uma nova beleza, constituída a partir de três epítetos duplos e equivalentes: erótica-velada, explosiva-estática, magica-circunstancial. Para isso, Breton considera fundamentais as críticas de Baudelaire ao belo acadêmico – que ele considera impessoal, monótono, cheio de tristeza e tédio – e a defesa que o belo deveria provocar nossa afetividade. Assim, no âmbito do Surrealismo passa a ser fundamental não considerar o mágico como uma propriedade anexa ao belo e sim valorizar a atração pelo misterioso. Os argumentos de Breton são próximos aos de Walter Benjamin, que atribuiu aos surrealistas a contribuição efetiva para o mundo contemporâneo, onde o instantâneo, o fantástico e o acaso são essenciais. O objetivo deste trabalho é aproximar, no âmbito da estética, as questões do belo e da magia a partir da abordagem surrealista.

16H
Sala 3
Adorno em diálogo
Mediação: Fernanda Proença
Estética de transgressão: a "pixação" à luz do construto estético-social
Gabriel Dias (UFOP)

O conceito de “construto estético-social” foi cunhado pelo filósofo Rodrigo Duarte visando compreender fenômenos estéticos contemporâneos que, por um lado, ostentam traços de mercadorias culturais, mas que, no entanto, não se adequam completamente a essa rubrica já que apresentam conteúdos críticos ao capitalismo tardio. Tal conceito é assim lançado como contribuição às três categorias de construtos estéticos propostos na Dialética do Esclarecimento por Adorno e Horkheimer, a saber, obra de arte, mercadoria cultural e “arte leve”. Esta complementação é necessária pois os construtos estético-sociais apresentam uma oscilação contínua entre posicionamentos estéticos e ético-políticos que provavelmente constituiria, na concepção dos frankfurtianos, um aspecto da fragilidade formal destas manifestações, as tornando mais suscetíveis à cooptação pela indústria cultural. O presente trabalho, por conseguinte, pretende se dedicar à leitura de um movimento cultural específico, a “pixação”, sob a ótica do conceito de construto estético-social. Vale ressaltar que optamos por utilizar o termo “pixação” grafado “x” e não com “ch”, como consta nos dicionários, como uma observação ortográfica dos próprios pixadores/as. Com esta alteração busca-se indicar uma dinâmica sócio-estética específica, criada e desenvolvida no Brasil, que tem como uma de suas características justamente o posicionamento estético, mas também ético-político de seus interventores/as.

Adorno em busca da apresentação: Prolegômenos a uma constelação mais tardia
João Paulo Andrade (UNICAMP)

Apoiado no material de espólio da Teoria estética, o trabalho deverá abordar o tema da exigência tardia de reelaboração da Darstellung, elemento fundamental da ideia de constelação. Ao que parece, Adorno buscava uma radicalização da parataxis, figura amplamente atribuída à sua forma de escrita pela bibliografia secundária. Nota-se, contudo, que tais comentários trataram a presença da parataxis de modo generalizado em toda a sua obra, e lança-se a hipótese de que apenas o último escrito de Adorno poderia ser precisamente chamado “paratático”. Pois, conquanto a parataxis possa ser encontrada em outros escritos, o decurso da obra de Adorno parece culminar em um modo de organização paratático que excede o mero recurso a tal figura. Toma-se, então, o conceito de estilo tardio (Spätstil) como pano de fundo teórico para essa reformulação, explorando a apropriação adorniana das obras do período tardio de Beethoven e Hölderlin. Por fim, enuncia-se a tipologia do paratático elaborada por Adorno em seu ensaio sobre Hölderlin, buscando demonstrar o emprego dessas construções no momento de reformulação da Darstellung da Teoria estética.

Silêncio e opacidade: a perspectiva adorniana da montagem cinematográfica
Willian Silva de Vasconcellos (UFMG)

A despeito do caráter de manipulação do cinema em alguns de seus textos clássicos, Adorno também refletiu sobre as potencialidades de um cinema autônomo ao fim de sua vida. O marco inicial desta reflexão sobre o meio técnico é o debate com o texto de Benjamin “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica” de 1936 e, desde então, suas reflexões estéticas ganham camadas na medida em que ele tem contato com um cinema divergente, tanto do que ele conhecia naquele momento, quanto ao que ele identificou na Califórnia. Defendemos que o debate com Benjamin permeia toda sua obra e, em especial sobre o cinema, são as colocações deste autor que mobilizam uma série de conceitos para se pensar um cinema autônomo. Em particular, a montagem, outrora criticada por Adorno, é o elemento central neste resgate benjaminiano. Nesta perspectiva, uma montagem que não se imiscui nas coisas, em que o sujeito se silencia frente ao material, é a dinâmica que proporciona tal fuga imanente de sua condição de mera mercadoria. Deste modo, a chamada decupagem clássica, técnica que procura neutralizar a descontinuidade entre planos reforçando a impressão de transparência, estaria pari passu ao sistema tonal na música. Por outro lado, uma montagem que não se deixa adestrar pelos desígnios dos produtores, tal como pela hegemonia da narrativa e do roteiro, poderia encontrar a ampliação, não somente do que é cinema, mas também do próprio conceito de arte.

06/12
seg
10H
Plenária
Plenária
Mediação: Miguel Gally
Improvisation as Paradigm for Art’s Potential to Intervene in Society
Georg Bertram (Freie Universität Berlin)
14H
Sala 1
O impacto da virtualidade nos modos de presença dos fenômenos estéticos contemporâneos
Mediação: Anna Luiza Coli
Acervos virtuais: um olhar adorniano
Fernanda Proença (UFMG)

Analisar como a disponibilização de acervos de arte em plataformas digitais impacta o modo de presença das obras não virtuais, sobrepondo-se às suas características formais originais. A partir do arcabouço conceitual da teoria estética adorniana, abordar como alguns aspectos da perturbação do par dialético forma-conteúdo incide sobre o teor de verdade das obras na sua recepção digital. Como contraponto, explorar a produção contemporânea de obras virtuais e suas possibilidades artísticas.

Moda e superfície digital
Luciana Nacif (UFMG)

Investigar em que medida a tecnologia digital, com seu fluxo ubíquo de informação, reorienta a criação e a experiência de moda na sua materialidade e temporalidade. Através do digital, som e imagem, voz e texto são reduzidos a efeitos de superfície, e dentro dos computadores tudo torna-se apenas um número: quantidade sem imagem, textura, continuidade e materialidade. Mas é importante analisar, em um segundo momento, como essa tecnologia é também capaz de abrir infinitas possibilidades de criação, interação e jogo.

A dança e seus modos de presença nas plataformas digitais
Ana Rita Nicoliello (UFMG)

Investigar o desafio posto pelo uso das plataformas digitais como meio de apresentação de obras coreográficas, principalmente no que se refere à transformação de seus modos de presença. Se a particularidade das artes performáticas em geral é a de promover um real encontro de corpos entre espectadores e artistas, a modalidade de apresentação virtual da dança – que se intensificou com a pandemia – acaba modificando sua própria natureza artística: a dança passa a se aproximar cada vez mais do cinema e a operar com a lógica do audiovisual, o que exige uma reelaboração sobre as relações de produção-recepção das obras coreográficas e seus sentidos.

14H
Sala 2
Kant e o universalismo
Mediação: Cíntia Vieira da Silva
Ajuizamento e prazer: Kant e "a chave da crítica do gosto"
Ricardo Barbosa (UERJ)

Na “Analítica do belo” (§§1-22 da Crítica da faculdade do juízo), antes mesmo de apontar todas as condições unicamente sob as quais um juízo de gosto pode ser considerado um juízo puro, Kant já começa a discutir o problema de sua pretensão de universalidade e a investigar o que a justifica. Essa antecipação do problema da “Dedução dos juízos estéticos puros” é particularmente evidente no §9, com o qual se encerra o segundo momento da “Analítica”, como sugere o seu título: “Investigação da questão, se no juízo de gosto o sentimento de prazer precede o ajuizamento do objeto ou se este ajuizamento precede o prazer”. Como Kant declara, essa é a questão: “A solução desse problema é a chave da crítica do gosto e por isso digna de toda a atenção” (B27). Esse parágrafo pode suscitar perplexidades, mal-entendidos e confusões. O presente trabalho visa a restituir o sentido autêntico do problema e da tese aparentemente paradoxal de Kant, segundo a qual o ajuizamento precede o prazer, explicitando as condições sob as quais ela seria aceitável.

A centralidade da arte para a Crítica da faculdade do juízo
Vladimir Vieira (UFF)

É comum reconhecer no belo natural o caso mais paradigmático para a argumentação que Kant desenvolve na primeira parte da terceira crítica. Isso se evidencia, por exemplo, na remissão à possibilidade de uma organização sistemática da natureza para caracterizar o princípio a priori do juízo reflexionante na “Introdução”; no privilégio atribuído ao conceito de “natureza como poder” na “Analítica do sublime” dinâmico; e mesmo no posicionamento quase lateral da discussão sistemática sobre o belo artístico – que tem lugar nos últimos parágrafos da “Analítica”. Não é pouco surpreendente, deste modo, encontrarmos reiteradas considerações sobre a arte num dos pontos mais centrais de toda essa seção – a saber, na “Dedução transcendental dos juízos de gosto estéticos puros”. Apesar de referir-se inicialmente, no §30, aos “juízos de gosto sobre o belo da natureza”, Kant recorre a temas como o gênio, a poesia e o papel dos críticos nos parágrafos seguintes. Nesse trabalho, pretendo argumentar que há, na verdade, duas centralidades distintas em operação na Crítica da faculdade do juízo: por um lado, o belo natural pode ser considerado um caso paradigmático de predicação estética porque é o que mais se aproxima do ideal de pureza que corresponderia ao ajuizamento integralmente fundado no jogo livre entre imaginação e entendimento; por outro, o belo artístico também pode ser considerado paradigmático na medida em que é por meio dos juízos sobre ele que melhor nos aproximamos de tal ideal.

Do padrão à antinomia do gosto: aproximações entre Kant e Hume
Carolina Miranda Sena (UFMG)

O objetivo da comunicação é propor aproximações entre a estrutura argumentativa de Hume, no texto “Do padrão do gosto”, e a forma como Kant apresenta sua “Antinomia do gosto”, na Crítica da faculdade de julgar. Apesar de não existir referência direta ao ensaio “Do padrão do gosto” nos escritos kantianos, a tradução alemã do ensaio de Hume já estava disponível um ano após sua publicação em inglês. Contudo, faz-se necessário resguardar as diferenças significativas entre os dois filósofos. Além da semelhança aqui proposta dizer respeito somente à formulação de um problema, Kant deixa claro que o projeto crítico não faz parte da corrente empirista. Portanto, sem cair no equívoco de falar sobre Hume em uma linguagem crítica, o que se intenta é mostrar que a antinomia do gosto de Kant pode ser pensada como uma problemática humeana. Kant discutirá, na “Antinomia do gosto”, o mesmo problema formulado por Hume anos antes, qual seja, o conflito entre duas posições igualmente evidentes que tem, de um lado, a noção bastante popular de que o gosto não pode ser discutido por se tratar de algo particular e, por outro lado, a ideia de um “padrão de gosto, uma regra capaz de conciliar as diversas opiniões dos homens, um consenso estabelecido que faça com que uma opinião seja aprovada e outra condenada”.

14H
Sala 3
Pensamento brasileiro
Mediação: Rosa Gabriella de C. Gonçalves
A noção de estética pobre de Gilda de Mello e Souza em diálogo com Roger Bastide
Juliana Siqueira Franco (UNICAMP)

Gilda de Mello e Souza foi ensaísta, crítica de arte e também a primeira professora de estética do curso de filosofia da Universidade de São Paulo. A autora deixou importante legado para a reflexão sobre artes no Brasil. Propõe-se um estudo sobre a noção de “estética pobre” em Gilda de Mello e Souza, mencionada no texto “A estética rica e a estética pobre dos professores franceses” (“Exercícios de leitura”, 1972). Busca-se compreender o trabalho intelectual da autora, vislumbrado seu método específico para o estudo e ensino das artes no Brasil – vinculados ao modernismo brasileiro e ao diálogo crítico com as vanguardas e teorias de arte europeias. Considera-se a hipótese de que esse traço advém da posição intelectual de seu professor Roger Bastide, estudioso profundo das religiosidades e culturas afro-brasileiras. Assim, busca-se investigar, no presente projeto de pesquisa, a troca intelectual da autora com seu mestre, apontando afastamento e aproximações deste, de modo a compreender a singularidade do pensamento estético de Gilda.

Os pássaros e os vírus: Hitchcock na pandemia
Pedro Duarte (PUC-Rio)

O tempo histórico pode modificar a forma como vemos as obras de arte. O filme “Os pássaros”, de Alfred Hitchcock, é de 1963. Na época, colocava em cena estratégias de roteiro, câmera e atuação típicas do estilo de Hitchcock. O mestre do suspense não trazia, ali, grande novidade na forma da obra. Somente uma estranheza, no conteúdo: em vez de filmar as intrigas e mistérios entre seres humanos, surgia um surpreendente elemento, um novo protagonista. Era a natureza, através da presença dos pássaros. Na época, o significado dessa surpresa não era o mesmo que para nós hoje, depois de 2020. Com a pandemia de covid-19, podemos ver a coerência do mestre do suspense ter filmado a natureza conferindo a ela o que agora nos espanta: sua alteridade incontornável, seu mistério insuperável. Desiludindo as pretensões do Iluminismo e da ciência de dominar a natureza, um evento inexplicável domina a narrativa: ataques de pássaros a uma pequena cidade. Como um elemento sublime, a natureza se impõe e é motivo de terror. Os pássaros, em princípio inofensivos, tornam-se ameaçadores. De modo semelhante, os invisíveis vírus trouxeram à realidade atual o limite humano diante da natureza. O objetivo desta apresentação é pensar “Os pássaros” a partir da pandemia atual e a pandemia atual a partir de “Os pássaros”.

Estética e crítica de arte em Gilda de Mello e Souza
Taisa Helena Pascale Palhares (UNICAMP)

A apresentação busca se aproximar do pensamento estético de Gilda de Mello e Souza a partir do que a autora nomeia como “estética pobre”, e sua relação com a crítica de arte enquanto um “desentranhar o fenômeno estético do cotidiano”. Trata-se também de analisar como a visão que parte do particular (ou do que é considerado irrelevante) pode revelar uma outra leitura interpretativa de objetos artísticos conhecidos.

16H
Sala 1
Corpus estético-epistêmicos entre indígenas, africanos e afrodescendentes
Mediação: Sílvia Saes
As práticas artísticas rituais e a fruição do àse no Candomblé Ketu
Alice Lino Lecci (UFR)

Propõe-se uma análise sobre certos elementos constitutivos dos rituais do Candomblé da nação de Ketu, como os cantos entoados aos Òrìsà, as danças coreografadas, os toques dos atabaques e as indumentárias, de modo a compreendê-los a partir dos ìtàn, as mitologias relativas a estas divindades africanas. Vale salientar, desde já, que tais práticas e saberes representam, no Brasil, aspectos da cultura e história dos povos iorubás, originários de Benin, Togo e Nigéria.
Os toques dos atabaques, os cantos e as danças ambientam os corpos dos elégùn, aquelas/es nas/os quais se manifestam os Òrìsà, para a personificação destas divindades. Nota-se que quando se obtém a exatidão na execução das músicas, das danças, na composição das vestimentas, nas insígnias dos Òrìsà e mesmo nas condutas das/os filhas/os durante o rito, tem-se a fruição do asè.
Dito isso, pretende-se discorrer sobre determinadas práticas artísticas rituais, examinando suas funções no âmbito do sagrado e a consequente vivificação do asè, que compreende a potência inerente à vida, capaz de transformar e realizar. Este processo criador assegura, então, o desenrolar da própria existência. Para tanto, consideram-se os diálogos estabelecidos com ìyálòrìsà Márcia Cristina Moura e com o bàbálòrìsà Fábio Moura, sacerdotes no Ilê Erô Opará Ofá Odé Asé Jaynã. Utilizam-se também dos escritos da ìyálòrìsà Gisselle Cossard-Binon, José Beniste, Muniz Sodré, Pierre Verger, Vilém Flusser, entre outros/as.

A imagem e a pele: da experiência xamânica Yanomami
Mariana Andrade (UFG)

O par de palavras imagem e pele já surgem, com força, ainda no peritexto da obra “A queda do céu”. Esse rico prelúdio textual, composto por duas epígrafes, um prefácio e duas apresentações, é encerrado com uma atraente fac-símile na qual vemos as palavras de David Kopenawa desenhadas em seu próprio idioma e caligrafia: o xamã oferece o livro aos seus leitores afirmando dar aos brancos aquela pele de imagem que é a sua. “Pele de imagem”, tradução literal de utupa sikɨ, é uma expressão Yanomami utilizada para se referir aos livros, nos informa Bruce Albert, antropólogo coautor-cúmplice da obra. A potência fulgurante da combinação dessas palavras volta a nos assombrar mais adiante no livro, dessa vez como o título de um dos capítulos: “A imagem e a pele”. O capítulo assim nomeado pertence a primeira parte da obra, na qual Kopenawa narra sua iniciação como xamã e nos apresenta toda a cosmologia que envolve o trabalho xamânico. Segundo Albert, justamente o conceito de imagem (utupë) funciona como uma espécie de centro de gravidade da ontologia e da cosmologia Yanomami e, por sua vez, esta cosmo-ontologia está fundamentalmente relacionada à experiência corporal dos xamãs. Nesse sentido, propõe-se no presente ensaio, um exercício filosófico de imersão na imaginação conceitual indígena Yanomami, particularmente nas noções de imagem e pele, com o propósito de investigar as múltiplas relações entre as experiências xamânicas e o corpo.

Ìyá como (pro)criadora (est)ética espiritual e filosófica no pensamento de Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí
Aline Matos da Rocha (UNB)

O trabalho objetiva refletir a instituição Ìyá (maternidade) a partir das discussões propostas pela pensadora iorubá Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí, que, através da escavação de saberes subjugados por processos coloniais, denuncia que com a instalação da colonização inglesa na sociedade iorubá há um modelo generocêntrico, nos estudos africanos, utilizado para ler e interpretar os escritos sobre a arte clássica iorubá de Ifé (antiga cidade no estado de Ọṣun, no sudoeste da Nigéria) e os artefatos culturais de África. Esse modelo generocêntrico solapa a função de Ìyá como (pro)criadora (est)ética espiritual e filosófica nos discursos estéticos de África. Entretanto, a arte, assim como outros âmbitos da vida iorubá, não foi moldada ou organizada com base no tipo de corpo generificado, mas as práticas rituais de criação e procriação estão entrelaçadas e são esferas privilegiadas por Ìyá, sênior primordial e honorífica, signo de criatividade em termos filosóficos e espirituais, cujos seres humanos – a prole de Ìyá – simbolizam o trabalho final da arte na cultura iorubá. Por meio desse objetivo, o trabalho é um convite para nos aproximarmos das discussões de Oyèrónkẹ́ Oyěwùmí e pensarmos cosmopercepções que (re)conhecem o lugar artístico de Ìyá na construção (est)ética iorubá.

16H
Sala 2
O sublime na estética alemã
Mediação: Pedro Franceschini
Juizos estéticos e formação moral em Kant
Gabriela Natal de Oliveira da Silveira (UFF)

Em sua análise acerca dos juízos estéticos sobre o sublime, na Crítica da faculdade do juízo, Kant afirma algo importante – ele diz que aquilo chamado pelos seres humanos “preparados pela cultura” de sublime mostra-se ao “homem inculto”, sem o “desenvolvimento de ideias morais”, como algo que apenas provoca medo (KANT, 1995, p. 111). Nessa passagem, Kant refere-se ao sublime dinâmico, os juízos que fazemos diante do reconhecimento (apenas em pensamento) do imenso poder que a natureza possui sobre nós – em um primeiro momento, sentimos medo diante desse reconhecimento, mas, em seguida, sentimos prazer ao perceber em nós mesmos a capacidade (moral) de resistir a esse poder. De acordo com o filósofo, no entanto, apenas aqueles que desenvolveram suas “ideias morais” conseguem vencer o medo. O que, porém, Kant quer dizer com “desenvolvimento de ideias morais”? Quais indícios desse desenvolvimento ou “cultivo” podemos encontrar tanto na terceira crítica quanto em outras obras do filósofo? Esta comunicação pretende, com base nessas perguntas, propor uma relação entre os juízos estéticos (do belo e do sublime) e a concepção de formação moral, como trabalhada por Kant na obra Sobre a pedagogia, que reúne suas preleções sobre educação.

O exame do sublime artístico em Kant à luz do quadro conceitual da analítica do sublime e da segunda introdução à terceira crítica
Giana Araujo (UFF)

Trata-se de examinar a questão, levantada pelo filósofo nos parágrafos 23 e 26 da terceira crítica, de considerar o sublime um ajuizamento possível diante de uma obra de arte. O sublime kantiano foi tratado por diversos filósofos como categoria central de análise da arte – conforme citado por exemplo por Sussekind e Achilei – contornando a questão da sublimidade artística. Entre os que se ocupam dela, as opiniões se dividem, e as justificativas para a possibilidade ou não de um sublime artístico partem ora do exame do quadro teórico apresentado, ora da contextualização de sua obra, que traria elementos para justificar o não tratamento mais detido da arte nesta Analítica.

Este trabalho se inscreve na tradição do primeiro grupo mencionado, analisando as seguintes concepções: juízo reflexionante estético; conformidade a fins formal; contrariedade a fins; prazer estético; estimativa estética de grandeza; o transbordamento apreensivo da imaginação (fracasso da síntese) como gatilho do sublime matemático; o confronto de forças (apenas potencialmente) destrutivo como gatilho para o sublime dinâmico; necessidade subjetiva e universalidade do sublime frente à reação humana diante do inadequado; gosto x sentimento na composição dos juízos reflexionantes estéticos. Inferimos então algumas condições fenomênicas possíveis da sublimidade artística, e em termos hipotéticos avaliamos a sua pertinência dentro do projeto crítico da faculdade do juízo.

Hölderlin e o sublime
Theo Machado Fellows (UFAM)

A enorme influência de Friedrich Schiller sobre o poeta e filósofo Friedrich Hölderlin é facilmente identificável na correspondência e no desenvolvimento da obra do último. Schiller não apenas atuou como conselheiro do jovem poeta, exercendo uma figura quase paterna em sua vida, como também lhe serviu de exemplo ao pôr em intenso diálogo a atividade poética e a investigação filosófica. Assim como Schiller, Hölderlin também buscará, ao longo de sua curta trajetória, encontrar no plano teórico a solução para seus impasses criativos. Contudo, um dos temas que mais interessou Schiller em suas incursões filosóficas, o sublime, não encontra, num primeiro olhar, espaço nas reflexões de Hölderlin. Com exceção de sua dissertação de magistério, escrita em 1790, o termo sublime [Erhabene] praticamente não é utilizado em seus escritos. Este trabalho busca, no entanto, mostrar que os escritos poetológicos de Hölderlin, sobretudo os que têm o trágico como tema, associam-se de forma profunda ao debate proposto por Schiller. Acompanhando Schelling em sua leitura especulativa da tragédia, Hölderlin não somente dá continuidade à discussão sobre o papel do sublime na arte, como também oferece novas perspectivas, que serão exploradas mais de um século depois em abordagens como a de Walter Benjamin.

16H
Sala 3
Arquitetura e design
Mediação: Ariadne Moraes
Como ler o livro de Vanguarda: Bauen in Frankreich, Bauen in Eisen, Baeun in Eisenbeton, de Sigfried Giedion e o lugar do espectador na Arquitetura Moderna
Guilherme Bueno (UFMG)

Referência para as Passagens de Walter Benjamin, Bauen in Frankreich, Bauen in Eisen, Bauen in Eisenbeton, livro do historiador de arquitetura Sigfried Giedion costuma ser tratado ora à luz de sua incorporação pelo filósofo alemão, ora por seu protagonismo no discurso da arquitetura moderna do entre-guerras. A diagramação dessa obra, bem como outras do mesmo autor (sabida sua determinante atuação nessa tarefa) tem sido objeto de relevantes estudos nas últimas décadas. Não obstante, o lugar – imersivo ou público – implicado na experiência subjetiva de sua leitura ainda convida a reflexão. Há o ambíguo dispositivo formal de sensibilizar o leitor para em parte descola-lo de uma relação “estética” com o objeto arquitetônico. Desenvolveremos nosso tema à luz de três hipóteses: o livro produz sobre si um caráter metatextual, na medida em que seu argumento a respeito da passagem do século XIX para o XX espelha sua lógica visual de leitura, além de revelar que seu posicionamento propagandístico assimila matrizes publicitárias; nesse mesmo sentido, porém sob outro viés, a tensão da forma entre o sensível e o “estético”, ou melhor entre o sensível/estético e o “funcional” revela a torção geracional frente aos escritos da teoria da Pura Visibilidade da virada de século; por fim, esquadrinharemos a dúvida sobre até que ponto os expedientes formais de Giedion ainda podem ser assumidos como centelhas estéticas ou se eles já gravitam na órbita da Teoria da Informação.

Vito Acconci: da performance ao design
Marilia Solfa (UFV)

Vito Acconci (1940-2017) iniciou sua carreira como poeta, mas logo ficaria conhecido como um polêmico artista performático que utilizava seu próprio corpo para desestabilizar o espectador, arrancá-lo de sua posição neutra e isolada perante a arte. As performances que realizou na década de 1970 investigavam o papel tanto do artista quanto do espectador na manutenção de relações de poder implícitas nos espaços institucionalizados da arte. Porém, a própria performance artística seria institucionalizada na década de 1980, quando também passou a ser promovida como espetáculo por museus e galerias. A produção de Acconci entrou em crise, e ele decidiu retirar seu corpo e sua figura pública (que se tornara famosa) de cena. A partir de então, o foco de sua atenção e de suas indagações ampliou-se, passando do espaço institucional da arte para o próprio espaço da vida cotidiana. Nesse sentido, voltou sua atenção para os espaços arquitetônicos e os objetos de design, investigando-os enquanto dispositivos velados de poder. Em 1988 fundou o Acconci Studio, um estúdio colaborativo de design que passou a desenvolver trabalhos coletivos que ofuscavam as fronteiras entre arte, arquitetura e design. Embora essa mudança em sua trajetória pareça abrupta, buscaremos demonstrar como, ao se desenvolver, sua produção artística foi dando corpo à formulação de uma série de problemas teóricos que o levaram a se aproximar de forma coerente, embora ambígua, do campo de atuação do design e da arquitetura.

O debate crítico entre Mário Pedrosa e Sylvio de Vasconcellos: crítica de arte e arquitetura
Lucas Silva de Lira (UnB)

Durante a construção de Brasília, um debate particular sobre a problemática entre crítica de arte e arquitetura pleiteado por dois intelectuais brasileiros colocava em primeiro plano os pressupostos estéticos e éticos da arquitetura no campo da crítica. No artigo “Arquitetura e crítica de arte” de 1957, publicado no Jornal do Brasil, Mário Pedrosa, importante crítico de arte e militante político, anunciava expressamente a chegada da “fase da arquitetura-obra de arte”, e diante disso o crítico de arte não poderia escapar de sua tarefa específica que é a apreciação estética. Finalmente, após um longo período de funcionalismo estrito e de uma crítica de arquitetura completamente acanhada, soara a hora da crítica estética. O arquiteto Sylvio de Vasconcellos foi o primeiro a se manifestar. Respondendo ao referido artigo de Pedrosa, ele expunha de maneira direta que tal movimento ousado, apesar de corresponder à nítida ausência de apreciação crítica da arquitetura brasileira, dentro do contexto de uma “crítica de arte não especializada” realizada por autodidatas representaria um empecilho descabido, pois era momento de ampliar a perspectiva crítica sobre o fenômeno arquitetônico. Por conseguinte, por meio da análise desse debate específico, podemos avaliar com precisão o dilema central da arquitetura moderna brasileira, assim como refletir à luz da crítica arquitetônica da época sobre a gênese, o amadurecimento e o destino que a nova construção encontraria em solo brasileiro.

07/12
ter
10H
Plenária
Plenária
Mediação: Fernanda Proença
Notas sobre a poética da autopromoção
Vinicius de Figueiredo (UFPR)
14H
Sala 1
O inapresentável em poesia
Mediação: Jessica di Chiara
O sublime oculto em "Maçã"
Isabella Gonçalves Vido (FCLAr)

Em textos como “O que é o pós-moderno” (1993) e “O sublime e a vanguarda” (1990), Lyotard constatou que há, na estética moderna, o movimento nostálgico que alude ao sublime como a um conteúdo ausente, e que, no entanto, o consola de sua “inapresentabilidade” com o emprego da linguagem que ainda conserva sua sintaxe e seu léxico intactos. Com opinião semelhante, Glenn Most (2002) opõe-se àqueles que acreditam que o sublime, tal como o belo, possui tão somente interesse histórico. Empregando exemplos da literatura para demonstrar que autores do século passado se acomodaram ao referido declínio, Most afirma que eles passaram a apresentar-nos o sublime de modo indireto, isto é, referindo-o como perda ou nostalgia. Consoante a este autor, propomos investigar as relações entre o sublime segundo as reflexões lyotardianas e a moderna tradição da poesia conforme discutida por Octavio Paz em Os filhos do barro (1984). Particularmente, buscaremos demonstrá-las no poema “Maçã”, em que Manuel Bandeira nos põe diante do mistério da simplicidade com que oculta o sublime.

A "Arte poética" de Verlaine e a expressão do inexprimível
Cristovam Bruno Cavalcante (FCLAr)

Convencidos de que as emoções suscitadas pelo belo e pelo sublime não têm qualquer relevância senão a do interesse histórico, muitos afirmam que estão em declínio. Entretanto, em “O sublime e a vanguarda” e “O pós-moderno explicado às crianças”, Lyotard havia afirmado que há, na estética moderna, o movimento nostálgico que alude ao sublime como a um conteúdo ausente, e que, no entanto, o consola de sua “impresentificação” em formas reconhecíveis pelo espectador ou pelo leitor. A esse respeito, exemplares são os poemas ditos simbolistas que, rejeitando os valores positivos, científicos e materialistas em vigor na segunda metade do século XIX, cultivaram a ideia de “purificação” da linguagem da “tribo” – sugerida por Mallarmé e buscada por Valéry – ou de desregramento de todos os sentidos – como o propôs Rimbaud em uma das famosas “Lettres du voyant”. Baseando-nos nos ensinamentos de Lyotard sobre o sublime, o moderno e o pós-moderno, buscaremos demonstrar que o projeto simbolista de desautomatização da apreensão do real consistia em uma tentativa de representar, via desrealização da linguagem, o “eterno”, o “absoluto” ou o “nada”. Mais precisamente, analisaremos os recursos encontrados por Paul Verlaine para tal empresa no poema “Art poétique”, que foi escrito em 1874, mas apenas publicado em revista em 1882, tornando-se, de imediato, em meio às polêmicas que suscitou, uma das grandes tendências líricas do final do século XIX e início do XX.

Entre a terra e o céu: o sublime feminino no ideário romântico simbolista
Sheila Dálio (FCL-Assis)

Pretende-se discutir a correlação existente entre as representações femininas, convencionadas aqui de “sublime feminino”, e a estética do sublime que percorre o ideário romântico, atingindo inevitavelmente a modernidade. Destacamos duas figuras que compõem a cosmogonia judaico-cristã e que tem nutrido o ideário romântico-simbolista: o mito de Eva como a “mulher maldita” e o mito da Madona. A primeira tem a insígnia da queda e está associada à separação entre o divino e o humano; nela estão matizadas as angústias humanas – o medo, a dor, o abandono, a vergonha, a desobediência e a morte são signos que acompanham a mentalidade cristã sobre Eva. A segunda é a representante motriz da graça divina, personificação do perdão e reconciliação entre Deus e os homens, o eterno feminino. Essas imagens, arquivadas em uma espécie de memória dogmática, têm feito do homem o construtor que ora se declina, ora se eleva ao feminino, moldando-o de acordo com suas pretensões, com traços delicados ou com traços sombrios, mas quase sempre ajustados dentro do padrão da “mulher santa” ou da “mulher perversa”. Nessas duas instâncias paradigmáticas, a do bem e a do mal, o efeito do sublime opera a aguda intensificação do pathos diante da mulher, representada como objeto de fascínio, devocional ou assombroso. O imaginário aqui considerado gera, portanto, seres sublimes, que a despeito da aura superior, não deixam de ser objetos da fantasia.

14H
Sala 2
Adorno e as artes
Mediação: Daniel Pucciarelli
A relação entre música e mercado segundo Theodor Adorno: uma análise das consequências estruturais e sociais
Luis Filipe de Lima Andrade (UFMG)

Partindo do diagnóstico de Adorno, que aponta para o fato de que “o papel da música no processo social é exclusivamente o da mercadoria; seu valor, o do mercado” (GS 18, p. 729) – presente em seu texto Sobre a situação social da música, de 1932 – o objetivo principal da comunicação consiste na análise dessa tese sob a ótica das consequências estruturais e sociais para a música que seriam decorrentes de tal diagnóstico. Para isso, nossa argumentação seguirá as seguintes etapas. Iremos, antes de tudo, apresentar uma das principais consequências do diagnóstico em questão, a saber, a da “alienação entre a sociedade e a música” (GS 18, p. 733); mais precisamente, 1) explicitar qual seria a relação de tal fato social com a situação da música enquanto mercadoria e 2) apontar que, longe de condenar a música à mera passividade, é possível constatar, com base nesse diagnóstico, ao menos dois posicionamentos do compositor e/ou da música diante de tal estado de coisas: por um lado, o da música radical – que se constituiria de modo oposto e crítico ao mercado – e, por outro, o da música resignada, que seria passiva à sua subordinação ao mercado e se posicionaria de modo resignado em relação ao estado de coisas atual. Para a compreensão específica desta última, será de grande importância, finalmente, nos voltarmos a uma breve análise do conceito de fetichismo musical, bem como de noções vinculadas a ele, como as de valor de uso e/ou valor de troca, por exemplo.

A música do jovem Schönberg na filosofia do Adorno tardio
Braulyo Antonio Silva de Oliveira (UERJ)

Quando retornou à Alemanha em 1950, Adorno participou de uma série de debates que abordavam desde questões ligadas à vida pública até os problemas mais complexos da arte. Nessa época, se destaca a sua participação nos Internationale Ferienkurse für Neue Musik. Neles, Adorno entrou em contato com as tendências mais vanguardistas. Nós podemos perceber nos cursos que ele ofereceu um esforço por comunicar algo que pudesse auxiliar os jovens compositores nas suas práticas. Ele abordou problemas concretos ligados ao contraponto, à instrumentação, à análise, ao ajuizamento das obras e até mesmo ao futuro da música. No entanto, em 1955, ele ofereceu um curso intitulado “O jovem Schönberg”. A aparição de um compositor basicamente tonal dentro de um cenário em que as forças musicais se moviam em direção a uma superação de tudo aquilo que ele supostamente representava levanta, naturalmente, uma série de perguntas: qual contribuição ele poderia dar aos jovens compositores? Como isso os ajudaria nas práticas mais contemporâneas? Afinal, onde residiria a sua atualidade? Mas as perguntas se dirigem também ao próprio Adorno. Ao retornar ao jovem Schönberg, não estaria Adorno a serviço da restauração ou da regressão? O filósofo da nova música tornara-se no seu maior inimigo? Todas essas poderiam ser resumidas: Qual o papel do jovem Schönberg na filosofia da música do Adorno tardio? Essa é a questão que inspira o nosso trabalho.

Os limites do artístico: a noção de “antiarte” na Teoria estética de Adorno
Raquel Patriota da Silva (UNICAMP)

A obra de Theodor Adorno é largamente conhecida por seu elogio à arte moderna e, em especial, por sua preferência pela “nova música”. Tal preferência é também muito acusada entre críticos e comentadores por ser sinônimo de uma restrição, de uma incapacidade de abarcar diferentes movimentos artísticos, sobretudo na década de 1960. Nesse sentido, comumente faz-se uma imagem da obra de Adorno como restrita a poucos representantes da arte moderna – Beckett na literatura, Schoenberg e sua escola na música. No entanto, uma leitura mais atenta de sua obra tardia nos permite construir uma perspectiva distinta. Na Teoria estética, Adorno comenta sobre a “situação” da arte então mais recente, a saber, sobre a tendência de que ela transgrida os limites do artístico, afirmando que nenhuma produção artística contemporânea seria pensável sem um momento de antiarte (Cf. GS 7, p. 49). Tal afirmação parece envolver dificuldades: não seria Adorno o autor que prescreve limites rígidos entre “arte autêntica” e “não-arte”? Por que o tema da “antiarte” aparece como um tópico importante na Teoria estética? Pretendo abordar essas questões traçando um panorama das obras mais tardias de Adorno, de modo a discutir como esse tópico deriva de outras discussões tecidas pelo filósofo em textos como “A arte e as artes” e em suas análises sobre a produção artística da década de 1960. Pretende-se, então, mostrar como sua obra tardia lidou profundamente com o questionamento das fronteiras do artístico.

14H
Sala 3
Sensibilidade e micropolítica
Mediação: Cíntia Vieira da Silva
O silêncio e a presença: por uma "escuta (in)possível"
Maria Lucília Borges (UFOP)

Quando Pierre Schaeffer propôs o termo “música concreta” (1948), considerou como concretos apenas os sons do mundo exterior (os ruídos) dos quais pudessem ser extraídos valores musicais. Foi John Cage (1951), igualmente interessado nos sons ao redor que não cessam de nos afectar, que ao pesquisar sobre o silêncio chamou atenção para a escuta dos sons internos, os sons do nosso corpo. Com a música concreta, eletrônica e aleatória, não só o ruído como também o silêncio foram tomados como materiais de composição, o que depende do ouvido, e, portanto, da escuta, como tecnologia primeira, um “ouvido impossível”, diria Deleuze. No campo da ciência, os pesquisadores Andrew Pelling e James Gimzewski (2002) foram além da experiência de Cage, ao demonstrar, através do uso de microscópio de força atômica, que as células emitem sons que podem ser amplificados para uma faixa audível por um ouvido humano, de onde resultou uma nova área da biologia, a qual chamaram de Sonocytology (estudo dos sons das células). Este estudo mostra que o ciclo de escuta, como o proposto por Schaeffer, age num movimento constante de interação e ressonância entre o corpo e o mundo, cabendo a nós, ouvintes, escutar também os sons de dentro como possíveis musicais. Da imagem do corpo como um corpo sonoro (células que soam), propõe-se aqui um desdobramento da “estética do silêncio”, de Susan Sontag (1967), através da escuta, a fim de elevar o imperceptível a camadas mais sensíveis dos nossos ouvidos.

Neuroestética e micropolítica de subjetivação
Pasqualino Romano Magnavita (UFBA)

Visando atualizar o conceito estética no pensamento rizomático (virtual/atual), a estética foi situada na virtualidade do cérebro, considerando as três formas de pensar e criar, filosofia, ciência e arte, as quais se cruzam e se entrelaçam sem síntese nem identificação e prioridades entre elas, fazendo do pensamento uma heterogênese. Variedades de expressões da estética: pragmática, estratoanálise, esquizoanálise, cartografia e micropolítica. Componentes conceituais da estética: estratos, agenciamentos, micropolítica, subjetividade, memória, criatividade e, recentemente, mercadoria e consumo. A estética participa da forma de pensar e criar da arte (plano de composição) criando novas percepções (perceptos) e afetos. Agenciamentos coletivos de enunciação (o que se diz) e agenciamentos coletivos maquínicos (o que se faz), enquanto individuações sem sujeito, expressam na estética seu “território” de estratos/agenciamentos (saberes/poderes em Foucault), definindo o seu “fora” na macropolítica da objetivação. A dobra do “fora” no “fentro” de um indivíduo enquanto processo de subjetivação configura um “território existencial auto-referente”, alojado no cérebro na virtualidade da memória, aguardando sua atualização nas práticas sociais enquanto micropolítica de subjetivação. Em “O que é a Filosofia?” de Deleuze e Guattari, o texto “Do caos ao cérebro”, enquanto preâmbulo de uma neurofilosofia, inspirou este novo conceito: neuroestética.

Spinoza for no(i)ses, by D&G: Algumas notas de corpo para uma filosofia dos eflúvios
Ramon de Carvalho Mazzini (UFOP)

O olfato e os odores, ao longo de uma história da arte e da filosofia, foram relegados como sentido e formas menores, ligados em demasia à alquimia ou prática que a valha. A libanomancia, a adivinhação pela fumaça, afinal, foi praticada largamente não só pelas pitonisas. Entretanto, alguns conceitos caros à tradição moderna e contemporânea, como os conceitos de sublime e de aura, são devedores das percepções mais etéreas. Quanto ao arranjo do aroma, alguns perfumistas compõem suas obras dentro de escalas de odores correlatas às escalas musicais, baseando-se na volatilidade, na duração das essências. Os mesmos seguem certas escolas da arquitetura, por ironia material, como visto se é nas fragrâncias brutalistas. Este trabalho ambiciona, com muita, muita modéstia, ir além da explanação do perfume como obra-de-arte ou memorabilia; ambiciona a possibilidade de um racionalismo per fumum. Ou, uma forma pneumática de pensamento, a substituição de uma ontologia por uma teoria das intensidades; uma osmologia, talvez. Ou, ainda, um materialismo em flagrante, com moléculas como mobílias em chamas. A seguir estudos com essência espinosista, como Philosophie de l’odorat, de Chantal Jaquet; Pequeno ensaio de cosmeto-teologia, de Cíntia Vieira da Silva; e alguns de Deleuze e Guattari – usados mais como perfumaria neste empreendimento -; pretendemos bater a poeira deste mundo e brisar com o ar livre de outros. Tal apresentação tornar-se-á viável graças às agências de fomento à pesquisa brasileiras, como a CAPES, o CNPq e a FAPEMIG; e graças à Universidade Federal de Ouro Preto, minha alma mater.

16H
Sala 1
Arte entre crises e reprodutibilidade
Mediação: Rosa Gabriella de C. Gonçalves
A dialética entre o sentido positivo e negativo da dessacralização da arte
Bruno Almeida Guimarães (UFOP)

Partindo da crítica dialética que Adorno propõe, em sua Teoria Estética, ao tema benjaminiano da perda da aura, pensada como tendência evolutiva da desartificação ligada à sobrevivência da arte, mas também como transformação da arte em indústria cultural, quando manejada a-dialéticamente, este trabalho pretende abordar o alcance e os limites da dessacralização na arte contemporânea. Trata-se, sobretudo, de reler a segunda versão de A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica, em que Benjamin aborda o tema da “mímesis” e do “jogo” para evidenciar a contrapartida positiva ligada à perda da autenticidade e do valor de culto na arte, bem como alguns possíveis desdobramentos desses efeitos dessacralizadores no campo sociopolítico.

Sobre o sentido de estética em Walter Benjamin
Carla Milani Damiao (UFG)

O objetivo maior da apresentção é discutir o sentido de aisthesis como percepção sensorial (Wahrnehmung), tal como aparece no conhecido ensaio intitulado “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, de Walter Benjamin. Essa investigação supõe o uso da palavra Wahrnehmung em relação a termos semelhantes utilizados em teorias estéticas de origem alemã. Partirei de alguns fragmentos de juventude de Benjamin, nos quais o conceito é referido em conjunção com o de signo e de símbolo. Tais escritos foram organizados pelos editores Tiedemann e Schweppenhäuser sob títulos e divisões que associam a Wahrnehmung à epistemologia, à psicologia e à antropologia. Essas divisões guiarão o agrupamento de fragmentos na identificação e análise do assunto. A intenção é indicar a complexidade do conceito como modos de diferentes tipos de percepção, seja nos fragmentos ou anotações esparsas de juventude, seja em seus escritos sobre a infância (de sua própria infância) ou sobre os modos de recepção da obra de arte reprodutível.

Arte moderna como "crise constante": o problema da identidade estética em Theodor Adorno
Verlaine Freitas (UFMG)

Desde sua emergência no final do século XIX, a arte moderna se apresenta constituída de sucessivos movimentos de negação de toda a tradição estético-artística anterior, propondo novas formas de interação entre sujeito e objeto. Trata-se, segundo Adorno, de uma tendência fundamental da arte avançada: negar seu conceito para lhe permanecer fiel. Isso, porém, tende a minar substantivamente a possibilidade de identificação do estético-artístico como tal, momento em que a aparência de sentido, unidade e significado somente consegue se firmar sob uma torção dialética vertiginosa, “crítica” no sentido de uma crise constante para com o âmbito da recepção. Reagindo de forma drástica ao movimento contrário de uma hiper-positividade imagética da indústria cultural, a arte de vanguarda parece obter sua única possibilidade de sobrevivência a partir de sua contínua auto-negação crítico-dialética. Nosso propósito é analisar os pressupostos e as consequências desse estado de coisas delineado pela estética de Adorno.

16H
Sala 2
Cidade e subjetividades
Mediação: Cíntia Vieira da Silva
Uma estética ambiental dos apetites: a cidade como aceleração dos encontros
Cícero Portella Castro (UNB)

A experiência urbana fundamental é o encontro, cuja imagem territorial é o cruzamento, unidade básica da cidade. Uma teoria estética ambiental pode partir do cruzamento para pensar de quais encontros se compõe um ambiente. O conceito de “choque”, uma espécie de encontro, é a primeira categoria estética original da teoria urbana moderna. Foi um dos conceitos utilizados por Walter Benjamin para elaborar uma tese materialista da arte que trata o aparato sensório como construção histórica e nos permite pensar a estética como uma disciplina que estuda a transformação do corpo. Novos ambientes, novas formas de vida. Na fonte biológica da variação da vida, o filósofo Brian Massumi propõe o conceito de tendência supernormal, o excedente de vitalidade que produz variação, o apetite de superar o que está dado. Podemos associá-lo ao conceito espinozista de potentia gaudendi, elaborado por Paul Preciado como a força que move a nossa economia libidinal, para pensarmos a cidade como uma experimentação coletiva da tendência supernormal, laboratório da espécie. Trata-se de pensar o ambiente a partir de uma estética dos apetites, mais atenta às relações de forças e desejos do que aos resultados formais; a cidade como um sistema de movimentos que facilita ou dificulta os bons e maus encontros. No centro, o cruzamento, tecnologia ambiental de aceleração dos encontros, gerador experimental de ambientes supernormais.”

Cidade, arquitetura e produção de subjetividade através de Guattari e Preciado
Leandro Dal Sasso Masson (UFU)

O presente trabalho busca apresentar alguns conceitos que constroem a problemática da relação entre arquitetura, produção de subjetividade e capitalismo, assim reformulada através das obras dos filósofos Félix Guattari e Paul B. Preciado. Para os autores a modulação maquínica-afetiva do capitalismo se faz também através dos processos que concernem às dinâmicas da cidade, do urbanismo e da arquitetura enquanto engrenagens da máquina-capitalística-farmacopornográfica. Assim, pensar os modos de funcionamento do capitalismo a partir da segunda metade do séc. XX, bem como os modos de produção de subjetividade que conferem tal período, é pensar como a mobilidade e habitação configuram as intensidades da máquina-capitalística-farmacopornográfica. De maneira que a pretensão desta comunicação é a tentativa sucinta de “re-arranjamento” dos conceitos utilizados por estes pensadores, permitindo-nos assim a construção do horizonte problemático sobre a cidade capitalista, ou como o maquinismo desejante é colocado em operação cotidianamente através do capitalismo farmacopornográfico e mundialmente integrado.

Giovannoni, patrimônio urbano e estética
Marina Nascimento Rebelo (UNB)

O trabalho se insere no campo da conservação e preservação do patrimônio urbano, tendo como objetivo criar um diálogo entre estética, educação patrimonial e legislação patrimonial brasileira, enquanto discorre sobre os assuntos através de alguns autores escolhidos. O trabalho apresenta uma leitura crítica do livro Educação Arquitetônica da Humanidade (2021) sob a ótica da teoria do patrimônio, tendo como pano de fundo a análise os conjuntos urbanos brasileiros protegidos. Para isso, será apresentado um diálogo entre a teoria do Restauro Urbano de Gustavo Giovannoni, que apresenta a cidade como artefato cultural, e os conceitos de valor estético e de arte.

16H
Sala 3
Croce e Collingwood
Mediação: Pedro Franceschini
Sobre o papel das emoções na compreensão da arte: esboço crítico
Gerson Luis Trombetta (UPF)

Considerando o amplo debate sobre as relações entre emoções e arte, o trabalho propõe um recorte teórico com um duplo propósito: o primeiro é expor a relação entre arte e emoções a partir da teoria da expressão, representada especialmente por R. G. Collingwood (The Principles of Art). Conforme essa abordagem, a arte realiza uma espécie de “comunicação clarificadora” das emoções. Para o artista, o seu estado emocional é comparável a um modelo que posa para um quadro. Ele busca meios para encontrar sua textura e seus contornos. Criar uma obra de arte, pois, não tem a ver com uma “explosão de sentimentos”; é, sim, um processo delicado de “clarificação”; o segundo propósito é analisar a presença das emoções na experiência receptiva da arte, de modo especial da literatura e da música. Amparado na teoria da recepção de Wolfgang Iser, o trabalho pretende sustentar a tese de que as emoções vividas pelo leitor/ouvinte preenchem as lacunas (do texto e da música) e compõem de modo decisivo o processo de compreensão da obra literária ou musical. Preencher uma lacuna (hiato) de um texto/música, para além do processo cognitivo, envolve respostas emocionais. Ao respondermos emocionalmente a um texto, por exemplo, nossa atenção é alertada para aspectos decisivos dos personagens e da trama; ao mesmo tempo, se almejamos realizar uma abordagem crítica da obra, isto requer uma reflexão cuidadosa sobre nossas reações emocionais, avaliando o que as provocou e se eram justificadas.

A história crítica da arte em Lionello Venturi e Benedetto Croce
Isabela de Oliveira Salinas (UNICAMP)

Traçar uma nova metodologia para a história da arte, em especial para as artes figurativas, foi o principal projeto intelectual do historiador da arte e crítico italiano Lionello Venturi. A tarefa se coloca a partir da reivindicação da função crítica da disciplina, que deve ir além do trabalho filológico rumo a um juízo de valor. Com uma função crítica e não de acumulação de material ou apreciação especializada, “história e crítica de arte convergem para aquela compreensão da obra de arte que não acontece sem o conhecimento das condições em que surgiu e que não é compreensão se não for juízo”. Sendo o juízo de valor o ponto de chegada da “história crítica da arte”, é preciso que esta tenha claro o sentido da natureza da arte, um conceito de arte, isto é, deve recorrer à estética. Tanto na reivindicação do caráter crítico da história da arte, que a identifica com a crítica de arte, quanto no conceito de arte a partir do qual forja sua crítica, reverberam as orientações do filósofo Benedetto Croce. Na comunicação, pretendo abordar a fundamentação crociana da nova metodologia da arte elaborada por Venturi na primeira metade do século XX, a fim de evidenciar como o autor defende que o conhecimento da estética é fundamental para libertar o historiador/crítico de “preconceitos recorrentes e colocá-lo em condições favoráveis para obter felizes intuições”.

Notas sobre expressão artística em Collingwood
Rafael Lopes Azize (UFBA)

Como caracterizar a especificidade estética do nosso engajamento, atenção, ou valor associado a objetos? Podemos visar certos processos de imitação, ou representação da realidade. Podemos nos concentrar em reações a disposições formais de propriedades desses objetos. Mas podemos também ressaltar continuidades entre o engajamento de tipo estético com objetos e a ação em geral no mundo da vida. Obras de arte, desse ponto de vista, para além de asserções que possam ser feitas por meio delas, comunicariam, ou melhor, exprimiriam coisas como atitudes e emoções. Alguns filósofos contemporâneos da estética julgam ser o aspecto expressivo uma parte fundamental do exame filosófico dos processos artísticos. Pretendo examinar algumas razões para isso, por meio do exemplo de R. G. Collingwood.

08/12
qua
10H
Plenária
Plenária
Mediação: Pedro Paulo Pimenta
A cor do gosto: psicologia e estética no século de Hume
Laurent Jaffro (Université Paris 1)
14H
Sala 1
A última virgem: a encenação e o discurso visual da cena
Mediação: Leonardo da Hora
A última virgem no purgatório: referências dantescas na encenação de "A última virgem", de Nelson Rodrigues
Celso de Araujo Oliveira Junior (UFRB)

A comunicação visa apresentar e discutir as referências à “Divina comédia”, de Dante Alighieri, nas escolhas da encenação do espetáculo “A última virgem” (título alternativo da peça “Os sete gatinhos”, de Nelson Rodrigues), principalmente nos elementos que compõem o discurso visual do espetáculo (cenografia, indumentária, iluminação e maquiagem), bem como os processos de condução do elenco em seu trabalho de composição teatral (corpo, voz e interpretação), na busca de uma coesão estética através da superposição destes elementos. O ponto de vista diferencial do painel se dá a partir da presença dos próprios artistas criadores do espetáculo (diretor, cenógrafo e iluminador) que também são pesquisadores acadêmicos em suas respectivas áreas.

Luz e visualidade: os desvios de “A última virgem”
João Alberto Lima Sanches (UFBA)

A comunicação discute as principais estratégias da iluminação no espetáculo “A última virgem”. Baseando-se na noção de desvio, formulada pelo teórico francês Jean-Pierre Sarrazac, o trabalho se concentra nos aspectos diferenciais da luz em sua articulação com o texto de Nelson Rodrigues; com a concepção da encenação; e com todos os outros elementos visuais da cena.

A experiência de “A última virgem”: os desafios da ressignificação de uma cenografia e a proposta de uma maquiagem expressionista.
José Roberto Santos Sampaio (UFRB)

Apresentação de uma concepção de cenografia que atendeu à proposta de encenação, com a utilização de um material de cenário originalmente desenvolvido para a uma outra produção, devido à falta de recursos. Apresentação e discussão de uma proposta de maquiagem, com referências expressionistas, para uma obra de Nelson Rodrigues que sublinhasse as expressões dos atores, em uma peça cuja verossimilhança interna distancia de uma drama real.

14H
Sala 2
O corpo na dança
Mediação: Vladimir Vieira
Escombros de um corpo em dança: da desfiguração da imagem ao gesto
Éden Peretta (UFOP)

Compartilho algumas reflexões sobre a experiência vivida na criação do último espetáculo de meu grupo de pesquisa, no qual tivemos como epicentro poético a desfiguração de imagens presentes em registros fotográficos e a consequente busca por seus vestígios, por aquilo que sobra nos escombros de suas formas ao serem destituídas de suas dimensões figurativas. Impulsionados pelas matrizes poéticas e pela metodologia de criação da dança butô, a qual convoca a recriação de imagens internas pelo “corpo em dança”, pudemos perceber um interessante diálogo com algumas discussões propostas por pensadores como Didi-Huberman e Giorgio Agamben. Nesse sentido, a desfiguração das formas representacionais da imagem fotográfica desengatilhou o percurso poético de criação do espetáculo, pois desvelou o “informe” e o “disforme” aprisionados em sua materialidade, aquilo que emerge e desaparece incessantemente em meio aos seus escombros.

É possível habitar um corpo dançante? Para uma nanopolítica dos afetos do corpo
Martha Ribeiro (UFF)

À partir da pergunta “É possível habitar um corpo dançante?” busco pensar o corpo como um incomeçado, sem origem, sem uma forma dada que se possa transformar. Um corpo biopotente com poder de gênese, que ao avesso de toda representação ainda está por vir. O corpo dançante nunca chega a um estado final, a uma forma definitiva, é sempre um devir corpo. Todo corpo é uma ideia, um pensamento, uma utopia (conforme nos diz Foucault). Talvez possa dizer que o corpo dançante seja um corpo impróprio, deformado, que refuta toda anatomia ou funcionalidade. Ou melhor, talvez possa dizer junto a Antonin Artaud, no texto “Aliéner l’acteur” (1947), que o corpo dançante, para enfrentar o jogo jogado da representação, projete uma “anatomia furtiva”, clandestina, que não se mostra, dissimulada, que em seu volume indeterminado, em sua geometria variável, infinitamente deformável, se mostre sem ser vista. Como, então, habitar um corpo? Se esse corpo é nossa maior utopia? E o que nos poderia acenar esse nosso estar atento à manifestação dessa presença furtiva? Aqui buscamos o pensamento afetivo, a empatia para pensar uma nanopolítica de corpos impróprios que possam enfrentar o jogo biopolítico das representações. Como nos diz Jean-Luc Nancy, é a empatia que pode nos fazer habitar um corpo. Um corpo dançante é um corpo capaz de se projetar e de se desarticular, separando-se de si mesmo, e que nos põe também a dançar e a falar uma outra língua.

Os sentidos na dança
Cíntia Vieira da Silva (UFOP)

O trabalho do dançarino envolve um treinamento motor que parece privilegiar a visão. Se pensarmos que a maior parte das escolas e estúdios de dança têm salas com espelhos, teremos um indício de que o corpo do dançarino é formado numa tradição que supõe que tal corpo precisa ver não apenas os outros corpos que habitam o espaço no qual ele se move, mas também a si próprio.
Em Before your Eyes, Lisa Nelson fala do quanto somos habituados a ler os movimentos dos humanos à nossa volta, de como a imitação tem um papel crucial na constituição de nosso repertório de gestos – o que é uma vantagem, mas também uma maldição, na medida em que temos dificuldade de nos desvencilhar do mimetismo e romper padrões de movimento. No entanto, para nomear sua contribuição original ao campo da dança, Tuning Scores, Nelson se vale de um termo ligado ao sonoro: tuning (afinação ou sintonização), além de conferir um papel à execução com olhos fechados de uma sequência de movimentos criada de olhos abertos. Para não mencionar que o Contato Improvisação, que ela pratica ao lado de Steve Paxton, é uma técnica que se vale intensamente do tato.
Minha proposta é discutir o primado da visão na dança, a partir de trabalhos com dançarinos com deficiência visual, da técnica do butoh, com a ajuda de filósofos como Berkeley e Condillac.

14H
Sala 3
Deleuze, cinema e teatro-dança
Mediação: Priscila Ruffinoni
Deleuze, Cinema e Política
Jamys Alexandre Ferreira Santos (UFMG)

O trabalho visa uma abordagem do pensamento filosófico de Gilles Deleuze sobre o cinema, mais especificamente o capítulo 8, “Cinema, corpo e cérebro, pensamento”, do livro Cinema 2 – A imagem-tempo, no qual se trata da relação entre cinema e política. Da análise deleuziana, pretendo deter-me principalmente sobre sua concepção de cinema político e de um “povo que falta”, de um povo sempre em devir que estava/está escondido por mecanismos de poder, que continuam atuando ainda nos dias de hoje. De posse desse instrumental teórico, tentarei direcioná-lo à criação cinematográfica brasileira atual, não abrangida pela obra de Deleuze, em busca de imagens que se diferenciem do padrão majoritário colonial.

Deleuze, dança-teatro: imagens de um CsO entre o menor e o esgotado
Paulo Jorge Barreira Leandro (UFPB)

O ato de criação é um ato genuinamente sem órgãos. Isso nos leva a pensar com Deleuze, que determinadas linguagens artísticas que envolvem processos de criação estão solavancadas à procedimentos de desconstrução dos órgãos como heterogênese de imagens outras diferentes do estabelecido pelo status quo. Pensar com Deleuze determinados procedimentos de desconstrução é, na verdade, se permear por processos múltiplos de criação que empreendem um esforço de disjunção maquínica a fim de produzirem, em arte, um corpo sem órgãos. Este, o CsO, surge na filosofia de Deleuze em torno do teatro menor de Carmelo Bene e de O esgotado de Beckett como dimensão política e social do próprio ato de criação, um processo de produção da diferença visando instauração de algo novo. Pensar a dança como teia de imagens de um CsO a partir das imagens de Bene e Beckett é o nosso desafio para esta exposição. Nesses múltiplos sentidos, buscamos uma dança que encontra alianças tanto em procedimentos de corpo em arte, como os de Gerzy Grotowisky e Eugênio Barba, reterritorializados no Brasil, a partir do Grupo LUME de Campinas, como por outro lado, no Butô de Kazuo Onu e Hijikata, para podermos tecer novas teias de imagens-corpo em abertura de sentidos para novos modos de (r)existir.

Analogia mente/filme: o caso da identificação de processos intelectuais com a estilística do filme
Yves São Paulo (UFBA)

Noel Carroll aponta duas firmes tendências da teoria de cinema ao longo da história desta disciplina: o realismo cinematográfico, e a analogia mente/filme. Caso façamos uma história apressada do recurso de investigação do cinema a partir de uma analogia com a mente, encontramos o germe num acidente, quando Henri Bergson utiliza o cinematógrafo como exemplo para ilustrar um princípio da inteligência. Depois dele, o pioneiro da filosofia do cinema, Hugo Munsterberg, que ao dividir seu tratado The Photoplay, entre a psicologia e a estética da nova arte, dedicou a primeira parte a traçar semelhanças entre os processos mentais agora postos ao alcance da percepção por meio das técnicas e trucagens do cinematógrafo. De volta à França, encontramos Jean Epstein, cineasta e teórico, que enxergava na máquina uma inteligência própria. A máquina viria no auxílio da filosofia para ajudar a mais profundamente inquerir os temas da metafísica. A máquina que transforma o descontínuo em contínuo, que revive o morto e acelera ou retarda o movimento natural vem ao auxílio de indagar o que é o tempo, por exemplo. Fechando esse conjunto de autores ainda podemos citar Deleuze, que nos anos 1980 pensa o cinema como um autômato espiritual. À luz de A metafísica da cinefilia, procuramos pensar por que essa analogia é tão constante entre os pensadores de cinema. Concluímos que há algo de uma identificação fundamental entre quem assiste a uma obra e o filme. Desta identificação nasce o sentimento de cinefilia.

16H
Sala 1
Literatura, linguagem e imagem
Mediação: Rosa Gabriella de C. Gonçalves
A tarefa do narrador: fotografia e literatura em W. G. Sebald
Luciano Gatti (UNIFESP)

A comunicação pretende abordar relações entre literatura e fotografia a partir da obra do escritor e ensaísta W. G. Sebald, em particular seu último livro, “Austerlitz” (2001). Segundo a hipótese a ser discutida, a montagem de imagem e texto operada por Sebald seria a solução encontrada pelo autor para lidar com o problema da apresentação literária de acontecimentos da história do século XX que evidenciaram a crise do conceito de experiência. A capacidade de um indivíduo assimilar em sua história de vida processos históricos geradores de exílio, morte e destruição em grande escala surge então como o problema central para Sebald e resultará numa obra que desafia a autonomia dos meios artísticos assim como a distinção entre ficção e documento. A comunicação destacará três aspectos da questão: 1) o diagnóstico de Sebald a respeito da relação entre experiência e narração, formulado a partir de montagens literárias como a de Alexander Kluge em “O bombardeio de Halberstadt em 8 de abril de 1945”; 2) o mecanismo literário do encadeamento de narradores em “Austerlitz” como uma resposta a tal diagnóstico; 3) e o estatuto da fotografia na obra de Sebald, desde sua posição como documento histórico até sua função narrativa.

Linguagem e literatura em Foucault: O caso Raymond Roussel
Luiz Felipe Martins Candido (UFMG)

O trabalho tem o objetivo de investigar e discutir a relevância da obra “Raymond Roussel” como representativa das visões de Foucault em seu período arqueológico. Como as fases posteriores do pensamento de Foucault (genealogia, ética) não são uma ruptura com seu pensamento anterior, mas desenvolvimentos deste, ao investigar esses elementos pretendemos também lançar luz sobre as concepções de Foucault em relação à linguagem, à literatura e à compreensão de liberdade norteadora de seu trabalho, tomando as visões expressas em seu pequeno livro sobre Raymond Roussel como um exemplo relevante dessas visões. Para isso, nosso trabalho passará pela exposição do método de escrita enunciado por Roussel e discutido por Foucault. A seguir, tomamos especificamente as posições interpretativas de Foucault acerca da literatura de Roussel, dividas no seguintes momentos: a discussão de Foucault sobre a finitude da linguagem e a multiplicidade de significados, a proximidade e distanciamento de Roussel do surrealismo literário, as possibilidades de uma prática livre ancoradas nas características da linguagem reveladas pela literatura de Roussel. Por fim, reunimos os principais pontos em algumas considerações finais, de forma a oferecer apontamentos acerca da importância deste trabalho no conjunto dos textos do filósofo francês.

Esboço e imensidão: a construção literária
Marcela Oliveira (PUC-Rio)

Desde a sua origem, a literatura lida com os limites da circunscrição de seu relato. Na poesia de Homero, por exemplo, a inspiração divina dá conta de impulsionar a narração daquilo que, de outra forma, seria esquecido ou escaparia à compreensão humana. De maneira cada vez mais descolada da moral épica e do caráter heroico, o romance vai explorar o antigo desejo de “tratar do universo todo” junto com a consciência moderna de sua impossibilidade. Em D. Quixote, de Cervantes, lemos que seu autor deve ser elogiado “não pelo que escreve, mas pelo que deixou de escrever”. Em Moby Dick, de Melville, lemos que o “livro todo é apenas um esboço – não! Apenas o esboço de um esboço.” Em A construção, de Kafka, lemos que “a coisa mais bela da minha construção é o seu silêncio”. Entre os séculos XVII e XX, vemos reverberar a problematização do que Cervantes chamou de “estreitos limites da narração”, ecoada pela exclamação de Melville: “Deus me livre de um dia completar algo”. Se o mundo do romance é tão grande quanto o oceano desbravado na busca pela baleia branca, essa comunicação pretende investigar a narrativa literária como a construção resultante desse esforço entre o esboço e a imensidão.

16H
Sala 2
Modernidade e Indústria cultural
Mediação: Rafael Azize
Cultural Imperialism and Voices from the Margins
Dubravka Pozderac-Lejlic (UNSA)

The paper will present a brief overview of the development of critical theory of culture, especially when high art and culture have lost their privileged places and media images have become the main carriers of production and distribution of cultural semantics of contemporary society. Unlike Adorno and Horkheimer, who saw the products of the cultural industry as a means of manipulating and passivating the public, later authors considered that the products of mass culture, “”generally available artifacts”” (Dick Hebdige), although unified and standardized, contributed to the development of democracy in art and culture and their liberation from the elitist exclusivity of the “enlightened” minority. As culture is socially located and inseparable from the social structure in which the different particular interests of a divided capitalist society are intertwined, the interest of newer theory is now directed towards the phenomena of everyday life and the active role of the audience.
The paper will present the work of Bosnian artist, designer and professor Asim Djelilovic, The Periphery Art, in which the author, using the well-known iconography of mass culture that is mostly based on the trademarks of consumer society, reacts to immediate events in his own environment but also to the global media-mediated events, directing our daily automated and shallow perception to a different semantic context that is dethroning the Western idea of progress and democracy.

“O observador é um príncipe que usufrui de sua condição de incógnito” : Baudelaire e a configuração do espectador moderno
Luís Inácio Oliveira Costa (UFMA)

No ensaio Sobre alguns temas em Baudelaire, Walter Benjamin retoma a tematização das mudanças na estrutura da experiência a partir da perspectiva das transformações nas formas literárias e poéticas e nas condições de sua recepção. Trata-se de uma nova versão para a problemática das transformações estéticas, midiáticas e linguísticas da modernidade, pois este ensaio permite uma interrogação acerca do impacto das mudanças estéticas e midiáticas do século XIX sobre as formas de linguagem e de comunicação e, mais especificamente, sobre as formas literárias. Com efeito, sob condições de recepção que conduzem a um primado do ótico experimentado como choque, novas formas literárias vão se desenvolver como resposta a tais mudanças. A lírica baudelairiana – que não apenas toma a experiência da cidade grande como seu tema mas busca expressá-la em sua forma poética – e também outras formas literárias emergentes aparecem como respostas ora adaptativas, ora contraditórias. Essas novas formas de linguagem incorporam a experiência moderna do ótico e expressam, de diferentes maneiras, a experiência do espectador moderno e do mundo moderno como espetáculo. O presente trabalho pretende tratar, assim, da configuração do espectador moderno e das formas de recepção e sensibilidade a ele ligadas, especificamente como essa configuração se insinua de modo contraditório na poética de Baudelaire, tomando-se como referência fundamental os ensaios de Benjamin sobre Baudelaire.

Pseudoindividualidade e indústria cultural em Thedoro W. Adorno
Breno Machado Viegas (UFMG)

O objetivo central desta pesquisa é investigar a correlação entre pseudoindividualidade e indústria cultural em Theodor W. Adorno, a partir da elucidação das profundas análises estéticas e de filosofia da arte do pensador frankfurtiano. Para tanto, são examinados os panoramas culturais e socioeconômicos que culminaram com a hipótese da negação do indivíduo e da falência atual da própria categoria de sujeito. Nesse sentido, aspira-se demonstrar como a ausência da capacidade de julgar se desenrola no contexto da produção e da recepção das mercadorias culturais sob a égide do capitalismo e da dimensão propagandística dos meios de comunicação, baseando-se na concepção de indústria cultural desenvolvida por Adorno em conjunto com Max Horkheimer principalmente na “Dialética do esclarecimento”. A pseudoindividualidade, tomada enquanto ideia da sucedida reificação que o consumo das mercadorias culturais instaurou, é analisada tendo em vista a suposta impossibilidade de o indivíduo vivenciar experiências genuinamente estéticas, explicitando-se ainda como ela se desenvolve em virtude da estandardização da produção e da recepção dos bens culturais a partir de sua obra “Teoria da semiformação”. Vale salientar que a importância do presente trabalho não se limita apenas ao contexto no qual Adorno desenvolveu a noção de cultura de massas, mas também, e talvez de maneira ainda mais evidente, traz distintas e profundas consequências para a atual conjectura de nosso tempo e de nosso país.

16H
Sala 3
Arte, política e emancipação
Mediação: Daniela Cunha Blanco
A forma estética e o caráter político da arte em Herbert Marcuse e Ernst Fischer
Rondnelly Nunes de Assis (UFOP)

Na comunicação analisaremos o modo como Herbert Marcuse e Ernst Fischer se distanciam da “ortodoxia estética marxista” quando se propõem a pensar a relação entre arte e política. Para os autores, o caráter político da obra de arte reside na forma estética e sua relação com a subjetividade, agora considerada implicada na política. Se a experiência estética promove a liberação de um potencial transformador da subjetividade e causa, para Marcuse, a “alienação da alienação”, ou corresponde, no caso de Fischer, à “magia que é inerente à arte”, trata-se aqui de pensar o papel de tal experiência e sua importância política. A concepção da estética marxista ortodoxa, que pensa a arte como ideologia e o político na arte como um slogan, será o ponto de partida para elucidarmos o modo como os autores analisam essa relação 1) afastando a crítica de arte de elementos extraestéticos e 2) liberando a experiência estética e sua possibilidade transformadora do jugo da ideologia.

A emancipação pelo sensível, uma utopia possível?
Angelo José Sangiovanni (UNESPAR)

O conhecimento ocidental privilegiou a razão e a hierarquia construída a partir da objetividade do pensamento. As percepções sensíveis eram consideradas uma forma inferior e confusa de conhecimento. O objetivo do trabalho será o de discutir e aproximar duas vertentes que defendem a possibilidade de emancipação humana pela reconfiguração do sensível, a de Jacques Rancière, que propõe a partilha do sensível, e de Augusto Boal, que propõe uma estética do oprimido. Rancière critica a visão não emancipatória da tradição ocidental baseada numa sociedade dividida em segmentos hierárquicos e não partilhada, repensando as relações entre o sensível e a política, como possibilidade de mudança nos espaços ocupados pelos vários segmentos da sociedade. A perspectiva estética de Boal, contrapondo-se à condição anestesiante sustentada pela narrativa unidimensional, tem como princípio que a arte e a estética libertam e desvelam a condição de opressão social, se posicionando ao lado do oprimido. Em Boal há uma proposta emancipatória no sentido de a arte servir de instrumento libertador de um modelo único de sociedade. Ranciére, por sua vez, com a partilha do sensível, pensa uma reconfiguração entre a arte e o mundo do trabalho, dando espaço para uma perspectiva utópica da sociedade. Ou seja, em ambos, o sensível é uma possibilidade para uma reorganização social emancipatória.

A obra de arte como imag-in-ação de horizontes possíveis em Theodor Adorno
Fabiano Leite França (UFMG)

Na medida em que se traduz como imagem do domínio técnico sobre a natureza, a obra de arte, simultaneamente, nega os artifícios de dominação no momento da forma, haja vista que liberta seus elementos particulares do momento de coação próprio da dominação humana sobre a natureza, distanciando-se da realidade natural e social coata ao reconstituí-la imaginativamente. Portanto, a partir da análise e interpretação do pensamento de Theodor Adorno, pretende-se demonstrar que a arte articula as contradições da realidade empírica, permitido que transpareçam no momento da forma artística como imagem de uma realidade processual, deveniente e prenhe de horizontes possíveis, que nega o caráter afirmativo de se constituir como algo reconciliado à lógica de dominação, segundo o modelo daquela subjetividade apropriativa do eu, cuja tendência é subsumir o particular e o múltiplo ao universal. Uma vez neutralizada no domínio estético, por força da negação em relação ao domínio técnico da natureza – domínio filiado ao desenvolvimento do ego, do conceito e dos modelos universais de totalidade -, a obra de arte faz com que a dominação da natureza renuncie ao seu poder, tornando-se modelo de algo liberto da coação, da mutilação e momento antitético em relação à totalidade ideologicamente falsificada. Sob esse viés, pode se concluir que a arte é a imago e a alegoria do em-si não cooptado pelas instâncias sociais de dominação.

09/12
qui
10H
Plenária
Plenária
Mediação: Vladimir Vieira
Arte e vida no pensamento de Nietzsche
Rosa Maria Dias (UERJ)
14H
Sala 1
Modos de presença: o irrepresentável
Mediação: Walter Menon
Do irrepresentável à sobre-representação
Rodrigo Duarte (UFMG)

Numa tradição que remonta à filosofia grega antiga (especialmente Platão e Aristóteles) e se consolidou nas Idades Moderna e Contemporânea (Schopenhauer, Nietzsche, Adorno, Flusser e Jankélévitch, p.ex.), a música é considerada uma arte que, diferentemente daquelas que afiguram coisas da realidade exterior (p. ex.: pintura e escultura) ou que são capazes de produzir imagens mentais mediante a decodificação de signos convencionais grafados numa superfície (p.ex.: literatura), produz uma expressão estética que nem apresenta, nem representa objetos externos. Isso dá margem a uma reflexão a partir do conceito de “música absoluta” (isso é, realizada apenas com a combinações de sons não articulados em palavras), segundo a qual o que se pode chamar de seu caráter de “irrepresentação” é conatural àquilo considerado inefável, no sentido da impossibilidade de ser tanto articulado em palavras, quanto reproduzido em imagens. Tendo em vista uma situação histórica em que esses dois tipos de expressão estiveram inextrincavelmente imbricados, em termos simbólicos, com a res extensa (e a possível perpetuação de sua modificação conservadora), o conceito da irrepresentabilidade da música pode se tornar um campeão do caráter libertador da arte em geral, e, em tempos de um predomínio quase absoluto dos dispositivos multimediais, o qual ameaça se constituir numa realidade paralela, se constituir numa alternativa crítica ao status quo.

O irrepresentável entre a revolução e o desencanto
Pedro Hussak (UFRRJ)

A comunicação insere-se no grupo de pesquisa Modos de presença, embora a noção de irrepresentável de início possa estar esteticamente vinculada ao domínio da música, ela também encontra aplicações para o campo das artes visuais. Pretende-se estabelecer um debate, colocando em oposição dois modos pelos quais dois pensadores franceses do campo da estética lançaram mão, em momentos históricos distintos, dessa noção: em primeiro lugar, o informe de Georges Bataille; em segundo, o sublime de Lyotard. Por um lado, Georges Bataille, final dos anos 20 cunha o termo informe para opor-se ao ideal do corpo antropomórfico proporcional que dominou o modelo estético das Belas Artes desde o Renascimento. Assim, a ruptura com a norma estética da tradição implicou na construção de um sentido de “vanguarda”, ou seja, a projeção da expressão artística do mundo que superaria a sociedade burguesa. Lyotard, por seu turno, faz uma leitura, a partir de Kant e Burke, contemporânea do conceito de sublime em O Inumano. Lançado um ano antes da queda do Muro de Berlim em 1988, o livro faz referência à pintura abstrata de Barnett Newman para expressar o luto e o desencanto com as promessas não realizadas da modernidade, dando à vanguarda a tarefa de pensar o “desastre”. Por fim, a comunicação vai sustentar que esses dois sentidos irrepresentável podem, de alguma maneira, expressar um pano de fundo para uma história do modernismo artístico do século XX.

Música e representação frente ao irrepresentável
Henrique Iwao (UFMG)

No artigo “Modos de presença nas manifestações estéticas contemporâneas”, Rodrigo Duarte posiciona a música a partir de um panorama histórico de abordagens filosóficas, como ligada ao modo do irrepresentável (Duarte, 2019). Ao me confrontar com sua proposta, entretanto, não senti que fosse tão claro o que o irrepresentável seria, o que me levou a perguntar sobre (A) o que valeria como representação. O irrepresentável, afinal, se estabeleceria em oposição tanto ao modo da apresentação quanto ao da representação. E se a música teria uma relação privilegiada com o irrepresentável, isso permitiria investigar se (B) a música teria mesmo dificuldades especiais em lidar com a ideia de representação. A partir do livro de Peter Kivy (1997), contrário à ideia de Arthur Danto de que a música seria representacional, por possuir significado incorporado, e remetendo aos textos dos autores mencionados no livro, procurei sintetizar diversas posições quanto a A e B, afim de, tentando estabelecer uma visão sinóptica, chegar a determinações mais precisas dos problemas. Os autores são, além de Danto (2005) e do próprio Kivy, Richard Kuhns (1978), Nelson Goodman (2006) e Monroe Beardsley (1981). A estas adicionei a posição complexa e muito interessante de Theodor Adorno, presente no artigo “Fragmentos sobre música e linguagem” (2018).

14H
Sala 2
Dança e performance
Mediação: Francisco Canal de Freitas
Uma dança contemporânea em SYNC
Maicom Souza e Silva (UnB)

Neste trabalho tecemos informações sobre o processo de montagem e encenação em dança contemporânea, estabelecendo um diálogo com o intuito de compartilhar a experiência da construção da videodança SYNC, elaborada entre abril e maio de 2021 na cidade de Vitória (ES), a partir de uma residência coreográfica virtual com a coreógrafa eslovaca Eva Urbanová e os artistas capixabas Gabriela Moriondo e Maicom Souza. Trazemos um breve levantamento bibliográfico sobre os discursos estéticos de poéticas individuais em dança contemporânea e metodologias de montagem que permeiam nossas pesquisas, e, em seguida, descrevemos o processo e apresentamos algumas imagens da montagem da videodança com intuito de registrar e apresentar pesquisas capixabas de esquematização de poéticas em dança cênica.

Por um corpo artivista: a instauração de uma bufona-ciborgue-bixa
Matheus Silva (UFMG)

A presente comunicação aborda a performance “O corpo desembestado de AdivinhaaDiva”, para cartografar uma série de dispositivos teóricos que a compunham. Trata-se de uma investigação sobre um corpo artivista, que se agencia como espaço de tensões e denúncias e, via arte da performance, instaura AdivinhaaDiva, uma bufona-ciborgue-bixa. Para chegar a esse propósito, a própria artista diagramou, como metodologia de sua pesquisa, conforme Gilles Deleuze, a zona de convergência entre noções e conceitos extradisciplinares necessários para a atualização de tal força ativa em seu corpo. Os dispositivos partiam de estudos artísticos, como os de Bya Braga, Bia Medeiros, Eleonora Fabião, Cassiano Sydow Quilici e Joaquim Elias, filosóficos, como os de Gilles Deleuze e Félix Guattari, Michel Foucault e Etiènne Souriau, e das teorias de gênero, como Donna Haraway, Paul B. Preciado, Judith Butler e Paco Vidarte. Por fim, engendra-se um estudo em torno de como instaurar-se em distintos espaços, traçando suas experiências corporais e sociais possíveis, bem como seus desdobramentos em outras realizações artísticas-cidadãs.

A comunidade das incertezas: tornar existente o inexistente
Sabrina Batista Andrade (PUCSP)

A apresentação tece uma breve cartografia afetiva de meus encontros com o projeto 48h_48min, suas intuições e seus desígnios. Esse fértil trabalho performático surge em nova configuração, compondo com novos artistas e também convidados, incluindo “Isadora”, considerada uma das artistas proponentes da obra. Isadora é um software de manipulação de mídias interativas que trabalha criando imprevisibilidade e uma espécie de desdobramento não linearizado na apresentação de conteúdos artísticos. Nesse processo, o que temos são performances sonoras e visuais, todas já disponíveis em plataformas digitais, e que foram apresentadas em oito livestreams sob a regência incerta e aleatória de Isadora. Assim, o software, além de performar as ações dos artistas proponentes, apresenta-se também como uma espécie de oráculo, conduzindo o destino dessas imagens, como irão se compor e chegar até seus espectadores, surpreendendo os próprios artistas do projeto. O que habita o futuro próximo? Quais forças de composição nos trará o oráculo? Questão que não se responde aqui, pois o trabalho se expande e ganha corpo de modo ainda mais complexo, através de um outro elemento parceiro ou constituinte: um oráculo muito antigo, na verdade antiquíssimo, que serve de fio condutor às ações construídas no projeto. Presente desde a primeira versão do projeto, os artistas também contam em suas performances com as coordenadas intuitivas e coparticipantes do I Ching – o livro das mutações.

14H
Sala 3
Experiência estética e sensibilidade
Mediação: Rafael Azize
Sobre a natureza da experiência estética
Rosi Leny Morokawa (UFRJ)

Alguns filósofos afirmam que seres humanos são capazes de ter um tipo de experiência com objetos e eventos que é distintamente estética, ou seja, uma experiência estética. Os defensores de teorias baseadas na existência de um tipo especial de experiência, ao qual chamam de “experiência estética”, devem explicar o que distingue uma experiência estética das demais experiências. No debate contemporâneo sobre a natureza da experiência estética podemos distinguir duas principais concepções. A primeira, chamada de “concepção minimalista”, defende que a experiência estética pode ser caracterizada como a atenção direcionada às propriedades estéticas e expressivas de uma obra de arte e a interação entre estas características. Noël Carroll seria o principal defensor de uma concepção minimalista de experiência estética, a qual ele chama de “abordagem orientada ao conteúdo”. A segunda, chamada de “concepção abrangente”, defende que a experiência estética ou apreciação estética, envolve outros elementos como a apreciação ou avaliação, o valor em si mesmo de obras de arte ou o valor atribuído à elas. Esta abordagem aparece em várias formulações distintas, a depender de como cada filósofo elabora sua proposta. Alguns representantes da concepção abrangente seriam Jerrold Levinson e Gary Iseminger. Na comunicação, apresentarei as duas concepções fazendo uma análise do debate entre elas.

A restauração do sensível na estética de Nicolai Hartmann
Gabriel Almeida Assumpção (UFOP/FAJE)

Nicolai Hartmann, filósofo germano-báltico de origem neokantiana e um dos maiores estudiosos do idealismo alemão, desenvolveu sua própria filosofia, a “nova ontologia”, tendo escrito sobre campos diversos, como ética, filosofia da natureza, teoria do conhecimento e estética. Nosso objetivo é apontar a fecundidade e relevância de seu pensamento estético, muito pouco estudado, apesar da retomada das pesquisas em Hartmann no século XXI. A partir da Estética, obra póstuma de 1953, e da Introdução à filosofia, de 1949, investigaremos o nexo entre estética e ontologia, verificando como Hartmann evita reducionismos ao se pensar ao fenômeno estético, levando em conta os vários níveis da realidade (material, orgânico, psíquico e espiritual/cultural). O sensível, o aspecto material da obra, é não só autônomo em relação ao psíquico e ao espiritual, mas é seu substrato. Uma consequência dessa ontologia, no plano estético, é que o valor estético de uma obra de arte reside na relação entre primeiro plano (Vordergrund) e segundo plano (Hintergrund). O primeiro plano diz respeito a elementos presentes sensualmente na obra de arte, ao passo que o segundo plano significa a unidade interior da obra a partir dos valores transmitidos através do objeto, ou seja, o ser espiritual da obra de arte – espiritual não no sentido de transcendência, e sim de espírito objetivo, isto é, a obra de arte como portadora do pano de fundo sociocultural da/do artista.

Bergson e o único animal risível
Filipi Silva de Oliveira (UERJ)

É de autoria de William Hazlitt o aforismo que edifica o homem como “o único animal que ri”. A verdade contida nessa expressão valeu até que Henri Bergson escrevesse seu ensaio “O riso” (1899). Nas primeiras páginas da obra, o autor ventila que o homem não é somente o único animal que ri, como é também o único animal risível; e que, acaso houvesse outro no mundo a produzir o efeito cômico, que esse animal se pareceria com o homem. Bergson não desmontou a crença de Hazlitt consolidada na cultura durante tanto tempo; ele apenas acrescentou uma particularidade estética ao caráter humano, afirmando que é comum a tal espécie animal a habilidade de rir dos outros; e de, ao mesmo tempo, servir de material para o riso. O que Bergson quis dizer é que a humanidade é ridícula enquanto ser social carregado de automatismos, rigidezes, vícios e deformidades. Em sua análise, o filósofo retomou um debate em torno da natureza do riso e da natureza do cômico e trouxe à tona o efeito estético que incrementa aquilo que chama de força de expansão cômica. O objetivo dessa comunicação é mapear os componentes dessa força, ou seja, entender em que medida o humano apresenta um fundamento risível em seu ser que se expande no riso. É de suma importância que, em nossa análise, distingamos o cômico – enquanto efeito estético prazeroso que corpo e alma experimentam diante de uma caricatura de certo corpo social – do riso, ou seja, do gesto social que critica e corrige o que há de ridículo no caráter humano.

16H
Sala 1
Walter Benjamin: Arte, história e linguagem
Mediação: Pedro Süssekind
A história como "imagem" em Walter Benjamin
Matheus Fernandes Pinto (UFF)

No inacabado Projeto das Passagens, o filósofo e crítico cultural Walter Benjamin explorou as virtudes de uma abordagem estética para a apresentação da história. Em um dos fragmentos metodológicos do Arquivo N, Benjamin questiona-se “de que maneira seria possível conciliar um incremento da visibilidade com a realização do método marxista?”. O problema estético da visibilidade coloca em jogo as tensões entre o particular e o universal, o contingente e o necessário, na filosofia da história. Entra em discussão, inclusive, o próprio primado da filosofia da história, na medida que esta deduz a interconexão dos dados históricos a partir de princípios constitutivos a priori. Nas palavras da comentadora Susan Buck-Morss, o Projeto das Passagens é uma tentativa de subverter os dogmas da filosofia da história, mesmo aqueles oriundos em parte do “método marxista”, em nome de uma história filosófica, na qual o objeto histórico efêmero e contingente toma de assalto o protagonismo da identidade conceitual. No centro da história filosófica benjaminiana, encontra-se a intuição de que “a história se decompõe em imagens”. Essas imagens históricas, ou o que Benjamin chama de imagem dialética, não podem ser consideradas dados empíricos auto-evidentes, o que acabaria por redundar no positivismo. Ao invés disso, o Projeto das Passagens retoma o sentido estético de imagem como um “campo de forças” para a mediação infinita de um sujeito e um objeto historicamente contingentes.

Da semelhança a analogia: uma aproximação entre Walter Benjamin e Octavio Paz
Bruno de Souza Pacheco Jalles (UFF)

Em doutrina das semelhanças, um texto póstumo, o filosofo alemão Walter Benjamin ensaia uma teoria da linguagem embasada na faculdade mimética. Segundo Benjamin, essa faculdade, apesar de atrofiada no homem moderno, seria a capacidade de ver e reproduzir semelhanças encontradas na natureza e teria como principal cânone de referências a própria linguagem. Para o filósofo, portanto, toda linguagem seria em sua essência onomatopéica.
A obra ensaística do poeta Octavio Paz é atravessada pelo conceito de analogia. Analogia é, para Paz, a presença de um ritmo pressentido ou, melhor dizendo, ouvido na linguagem humana que atestaria por espelhamento a existência de uma espécie de ritmo cósmico e, portanto de uma linguagem universal, uma prosódia que conjugaria a realidade numa “totalidade indivisível”.
O objetivo desse trabalho será aproximar esses dois conceitos, o de semelhança e o de analogia, a fim de iluminar um possível conceito de arte e de mímesis de fundo romântico partilhado em alguma medida por ambos os autores, onde a mimeses da natureza consistiria na mimetização da rede de correspondências presente nesta.

Histórias que queremos contar. Uma análise benjaminiana das ações contra estátuas e monumentos
Ivana Denise Grehs (UFF)

A onda de ataques a monumentos ditos históricos e memorialísticos, que vem se espalhando por diversas cidades nos últimos tempos, coloca em pauta o debate sobre o passado e o que se preserva como memória coletiva. O que percebemos é que os memoriais que foram atacados são representações de uma história contada pelos vencedores. Preservar uma história contada a partir das memórias do opressor levanta uma questão que está presente no pensamento do filósofo Walter Benjamim, em especial na tese VII de Sobre o conceito da história, de 1940. Nessa tese, Benjamin propõe “escovar a história a contrapelo” e afirma que “Nunca houve um monumento da cultura que não fosse também um monumento da barbárie”. A filósofa e comentadora de Benjamin, Jeanne Marie Gagnebin, afirma que “Escrever a história dos vencidos exige a aquisição de uma memória que não consta nos livros da história oficial”. Por isso, a proposta de Benjamin em sua filosofia da história implica também em pensar a teoria da memória coletiva conectada à noção de experiência, desenvolvido em seu ensaio O narrador. Nesse contexto, nos interessa refletir sobre as ações políticas impetradas contra determinados monumentos públicos, sendo que os mesmos não se coadunam com uma memória que se pretenda exaltar nesse momento histórico.

16H
Sala 2
Kant e a questão da expressão
Mediação: Vladimir Vieira
A improvisação musical como expressão do gênio segundo Kant
Danielton Campos Melonio (UERJ)

Na composição musical, geralmente, o artista materializa seu processo inventivo por meio de uma obra organizada com base em uma estrutura estabelecida por um determinado estilo musical. O campo harmônico, as escalas derivadas desses acordes e as células rítmicas são, dessa maneira, como “regras” que limitam, até certo ponto, a expressão musical para que se mantenha dentro dos padrões estilísticos; apesar dessas limitações é possível encontrar, em certos momentos, uma expressão artística mais livre. Em estilos contemporâneos como o jazz e o rock, por exemplo, alguns músicos se expressam mais livremente no momento da improvisação. Mesmo que ainda vinculados às regras do sistema musical, muitos solos improvisados, por vezes únicos e nunca mais repetidos, são exemplos da liberdade criativa do artista. Além dessas condições objetivas, o músico se expressa também apoiado em condições subjetivas, que por vezes se mantêm implícitas nesse processo. Assim, as expressões musicais exigem igualmente do artista imaginação, liberdade e genialidade. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é explicitar as condições subjetivas necessárias para a realização da improvisação musical, alicerçado nos conceitos de gênio e fantasia livre expostos por Kant na obra Antropologia de um ponto de vista pragmático (1798).

Expressão, ideia estética e arquitetura reflexiva em Kant
Miguel Gally (UnB)

Na teoria da arte, assim como na filosofia da arte e da arquitetura, o termo “expressão” remete, grosso modo, a uma relação de identidade entre duas instâncias separadas, das quais uma é interna (p.ex., emoções, A) e outra é externa (obra, B), sendo que expressar é pôr para fora, de uma maneira peculiar, isso que está dentro (COLLINGWOOD,1938). Partindo disso, perguntar por quais propriedades são expressas em B pensando nas propriedades de A faz algum sentido. Entretanto, quando observamos a origem desse conceito e nos deparamos com a ideia estética pensada por Kant (1790/93) algo perde sentido, porque aí arte/arquitetura não é expressão de algo determinado; e, assim, perguntar pelo quê ideias estéticas expressa(m) se transforma numa questão quase sem resposta (GUYER, 2011). Gostaria de continuar essa discussão explorando, nesse contexto, as consequências de assumirmos que a expressão de uma ideia estética é a expressão de uma relação interna marcada por uma indeterminação (interna) necessária: entre o que tal obra é (ou para que serve) e o que ela pode ser (ou para que pode servir), sem que isso que ela seja (seu uso atual) iniba a busca pelo que ainda poderia ser (uso potencial) e sem que o que poderia ser contradissesse isso que é. Se tal relação aí expressada pode também ser vista a partir de um exercício teórico-especulativo da liberdade de (não) conhecer e se há um privilégio da arquitetura reflexiva (ou bela) são algumas das questões que propomos discutir.

Semântica da reflexão no "jogo livre" como "interpretação estética"
Virginia H. A. Aita (USP)

O jogo livre de imaginação e entendimento, como exercício espontâneo da reflexão no juízo estético reflexionante, é a atividade das faculdades (§9) que vai tornar factível a passagem de uma finalidade técnica a uma finalidade meramente formal, contemplativa e propriamente estética. Essa análise pretende esclarecer como se dá essa passagem mediante a construção de uma aparência articulada em estruturas semânticas e retóricas, resultante da interpretação imaginativa implícita no jogo livre das faculdades. Para Kant, a passagem à “arte bela” como instância de uma finalidade sem fim só se realiza no imaginário como “expressão” de conteúdos “indetermináveis”, em “formas arbitrárias de intuições possíveis”(KU,69), e ipso facto em idéias estéticas que não mais se reportam ao inventário da natureza. Kant assinala aqui um modo de representação elíptico, indireto, de conteúdos representacionais e simbólicos implicando um tipo de ‘interpretação’: “coisas danosas descritas belamente”, “a morte como um anjo tutelar”, “Marte” como “valor guerreiro, por uma alegoria ou atributos estéticos”. Assim, remete à questão da interpretação e transposições metafóricas, implícitas na representação pictórica e sua apreciação, que corresponde ao jogo livre das faculdades cognitivas à base da reflexão estética. Qual seja, uma transfiguração do real percebido, segundo uma interpretação que se sobrepõe às “leis da associação dos fenômenos”, à descrição de objetos e estados de coisas.

16H
Sala 3
Estéticas descoloniais
Mediação: Marcelo Rangel
O subsolo estético da Crítica da razão negra
Alexandre Pandolfo (Famaqui)

Partindo da imagem “subsolo” utilizada por Achille Mbembe na “Crítica da razão negra”, o trabalho procura organizar um punhado de ideias não idênticas, filosóficas e literárias, estéticas e políticas. No capítulo “Réquiem para o escravo”, Mbembe recorre ao que ele chama de “escrita figural”, a literatura, afirmando que, para bem compreender o estatuto do escravo negro na época do primeiro capitalismo importaria retornar à figura do retornante, do espectro – revenir à la figure du revenant – o escravo negro, espectro da modernidade, precisamos vê-lo, diz Mbembe, por meio da experiência literária, lê-lo na forma de uma experiência da imagem e da linguagem, isso aí não-aí, fantasma. Interessa para este trabalho a crítica radical à filosofia da primazia do ser, crítica que aí se apresenta ao percorrermos os caminhos e os trânsitos da expressão, da figuração e da representação, as vias imiscuídas da forma e do conteúdo, os desvãos, as estrias, as agruras da degradação, da maldição, da abjeção, em sentido estético e filosófico político – procurando os rastros de inteligibilidade de uma situação histórica atravessada por imagens fatos feitos discordâncias com a justificação do estabelecido. Emaranhado estético, cujas consequências filosóficas são práticas, a saber, políticas e éticas. O trabalho traz fragmentos de obras de Lima Barreto, Carolina Maria de Jesus e Machado de Assis, procurando assim dialogar com as escritas figurais e proposições trazidas por Mbembe.

As definições panculturais da arte e o sentido estético das artesanias: uma reflexão a partir de Antonio Poteiro e das cerãmicas Karajá (Iny Mahãdu)
Charliston Pablo do Nascimento (UEFS)

Algumas teorias da definição da arte costumam fundamentar seu conceito no advento de uma “era histórica da arte”, notoriamente nas transformações das práticas dos “artefici” nos séculos XIV-XVI, ou na consolidação da institucionalidade da arte no século XVIII. Segundo essas teorias, tais períodos históricos demarcam o desprendimento da prática da arte em relação ao que convencionou-se chamar artesanato: enquanto às obras de arte e à sua historicidade passou-se a devotar reflexões de ordem estética e a problematizar a sua definição e crítica, a todo um amplo espectro de “criações manuais” das mais diferentes culturas relegou-se os termos “artesanato” e “artefato” como sinonímias reduzidas a interpretações votivas, folclóricas, decorativas ou antropológicas de suas funções em culturas populares ou “exóticas”. Nesta comunicação, e valendo-me do recente debate estético de Wilson, Dutton, Davies e Lopes em torno das definições não-ocidentais e panculturais da arte, e da tenuidade entre arte e artesania em Antonio Poteiro e nas cerâmicas Karajá (Iny Mahãdu), defenderei que: 1) a estética necessita problematizar a definição e o sentido estético plural das artesanias e seus artefatos; 2) a distinção entre a prática da arte e a prática do artesanato se sustenta em um reducionismo histórico-institucional regional e em preceitos estéticos cuja fronteira é tênue; e, 3) que uma reavaliação estética das artesanias implica uma retomada pancultural do problema da definição da arte.

A estética da música sacra afro-brasileira
Julice Oliveira Dias dos Santos (UNEB)

A presente comunicação propõe analisar a música sacra afro-brasileira à luz da estética filosófica da Modernidade (séc. XIX a XXI). A difusão da música sacra afro-brasileira é um advento da Modernidade, que ganha visibilidade na história da arte a partir da década de 30 do século XX com a difusão de pesquisas de natureza interdisciplinar. Na atualidade, a música sacra afro-brasileira aparece ainda como conteúdo vinculado a diferentes campos do saber, como a antropologia, a etnomusicologia, a sociologia da cultura, a historiografia e os estudos culturais. A abordagem teórica sobre o objeto alcança na atualidade uma difusão que ainda está fundida à abordagem de outros temas; ou submetida ao discurso de natureza religiosa, da militância política e dos movimentos sociais. O ponto de partida é o reconhecimento, em concordância com Fourez que afirma o objeto tem caráter interdisciplinar, quando a sua investigação é compartilhada por diferentes ciências. De fato, a música sacra que se origina no Brasil como herança dos povos ameríndios, negros e europeu possui uma natureza interdisciplinar que dá origem à produção de “saberes”, cujo campo positivo permanece comum a diferentes áreas. Mas ao questionar quais são as condições de possibilidade de pensar a música sacra afro-brasileira como expressão da arte; emerge o primeiro obstáculo epistemológico, a saber: qual fundamento filosófico institui o estatuto de arte ao referido objeto? Ou, qual é a estética da música sacra afro-brasileira?

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